terça-feira, setembro 30, 2008

MACHADO, O ANTI-LULA

Vou deixar um pouco de lado a crise financeira nos EUA e a nova humilhação da política externa brasileira na América do Sul para me concentrar em algo bem mais prosaico. Refiro-me ao centenário da morte de Machado de Assis, nosso maior escritor, comemorado ontem. A data coincidiu, certamente não por acaso, com a assinatura do novo acordo ortográfico da língua portuguesa, que pretende unificar o idioma falado hoje por cerca de 200 milhões de pessoas em quatro continentes.
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Sobre o acordo ortográfico, falarei depois. Por ora, o que me interessa aqui é analisar um pouco mais de perto essa figura ímpar que foi Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908). E traçar um paralelo entre ele e nosso supremo mandatário da nação.

Machado foi o anti-Lula. O que quero dizer com isso? O que qualquer pessoa que conheça razoavelmente bem a biografia do fundador da Academia Brasileira de Letras sabe perfeitamente, mas que quase ninguém, com medo de ofender os cânones politicamente corretos, tem coragem de dizer abertamente: que, nascido num subúrbio carioca, de pai e mãe paupérrimos - ele, pintor de paredes e descendente de escravos; ela, lavadeira e costureira, ambos analfabetos -, e além de tudo mulato, míope, gago e epilético, Machado encarna tudo aquilo que Lula não é, nunca foi e jamais será um dia - um exemplo de superação individual.

Tendo praticamente todas as circunstâncias conspirando contra si, desde a origem humilíssima até a cor da pele - num país em que, é bom lembrar, ainda reinava a mancha da escravidão, e que via na brancura da cútis um atestado de superioridade física e mental -, Machado jamais se conformou ao determinismo social de sua época e ao vitimismo fácil que sempre caracterizou certa visão esquerdista. Também, ao contrário do que muitos gostariam hoje, nunca sujeitou sua literatura a um papel racial demagógico - nunca foi, em suma, um "escritor negro". Foi um escritor, pura e simplesmente. O maior da literatura brasileira e um dos maiores da literatura universal, ao lado de Dante, Camões e Cervantes.

E Lula? Bom, acho que não vou precisar lembrar aqui sua origem social. Ela é conhecida de todos, que já ouviram e reouviram, ad nauseam, a história de sua vinda para São Paulo num caminhão pau-de-arara, sua infância pobre e sua mãe "que nasceu analfabeta". Ele, aliás, faz questão de dizer isso sempre que pode, em discursos geralmente recheados de sentimentalismo e erros de português, que não raro levam às lágrimas muitos intelectuais de esquerda. Luiz Inácio, o menino de Garanhuns, interior de Pernambuco, que veio para São Paulo fazer a vida, virou metalúrgico, perdeu um dedo, tornou-se líder sindical, entrou para a política e foi eleito e reeleito Presidente da República... Comovente, não?

Seria, certamente, se não fosse por um detalhe, que geralmente passa despercebido pela legião de admiradores de D. Lula, Primeiro e Único. Ao contrário do autor de Dom Casmurro e de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Lula não prosseguiu nos estudos, parando na 4a série primária. Para todos os efeitos, é um semi-letrado, um semi-analfabeto. E, igualmente ao contrário de Machado, ele não o fez não porque não tivesse condições financeiras de correr atrás do tempo perdido e superar essa deficiência, mas por um motivo muito mais simples e inconfessável: porque não quis. Pelo menos desde que largou o macacão de operário e entrou para a política, no final dos anos 70, ele teve tempo e oportunidades de sobra para cursar até uma faculdade, se quisesse. Em vez disso, preferiu a política. E virou presidente da República.

Tamanha é a hegemonia da cantilena politicamente correta nessa e em outras questões que mesmo alguns críticos de Lula e do PT hesitam em tocar nesse assunto, para não passarem por "elitistas" e "preconceituosos". Para eles, como para a maioria, Lula pode até ser um bandido e um enrolador, mas sua ignorância seria um pecado menor. Não vêem nada de mais em que as principais atividades intelectuais de Lula sejam os churrascos com os amigos ou os jogos do Corinthians. Ou que Machado apreciasse Beethoven, enquanto Lula gosta de Zezé Di Camargo e Luciano.

As diferenças não páram por aí. A negligência do atual mandatário brasileiro com a própria educação decorre de algo bem mais íntimo e pessoal do que qualquer condição social pregressa: Lula detesta ler. Sua aversão à leitura é notória. Para ele, como confessou certa vez em um evento - em que ironicamente tentava estimular as crianças ao hábito da... leitura! -, ler um livro é algo tão penoso quanto andar de esteira. Seria apenas mais uma curiosidade inofensiva, ou mais uma gafe, se não fosse outro detalhe: não somente ele foge dos livros como o diabo da cruz, como propagandeia e orgulha-se de sua própria ignorância. Na verdade, esta é uma arma que ele utiliza sempre que é conveniente, para rebater qualquer um que critique suas poucas luzes. Basta alguém lembrar esse detalhe que ele, ou algum de seus milhares de assessores gritará, indignado: "é preconsseitú!". Com Lula, a infância pobre e humilde tornou-se um álibi para a ignorância. Esta, por sua vez, foi elevada à condição de verdadeiro objeto de culto.
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De acordo com essa visão dos petistas, Machado de Assis, certamente, seria um preconceituoso. Pior: ele era parte da "elite branca" (mesmo não sendo da elite, nem branco) que torce o nariz para o presidente-operário por seus erros de português e sua origem nordestina. Sim, porque Machado, diferentemente de Lula, gostava de ler. Mais que isso: ao contrário de nosso presidente, ele procurou contornar as dificuldades da vida, tornando-se um autodidata. E isso sem cotas, nem nada do gênero. Enfim, ele tinha tudo para ser um ignorante, ou, se vivesse hoje, um petista. Mas não cedeu ao apedeutismo. Mesmo não sendo político - ou talvez por isso mesmo -, não sucumbiu à preguiça intelectual, nem jamais usou o argumento do preconceito da "Zelite" para justificar a própria ignorância. Ao contrário: dominando também o francês e o inglês, tornou-se um fino e sofisticado ourives da língua portuguesa. Se vivo fosse, Machado seria tachado pelos companheiros petistas como um esnobe e um traidor da causa "afro-descendente".

Poderiam argumentar que nenhuma comparação entre Machado e Lula se sustenta, pois afinal Machado era um gênio, talvez o maior que tivemos, enquanto Lula é um político. Eu digo que essa comparação apenas torna maior o fosso entre os dois personagens, sem dela retirar seu conteúdo pedagógico. Gênio ou não, Machado veio do nada, tendo nascido e se criado em condições - e numa época - muito mais difíceis do que as que Lula enfrentou. Sua trajetória de superação não é uma simples história do menino-pobre-que-venceu-na-vida-contra-tudo-e-contra-todos. É uma história de caráter. A de Lula, por sua vez, não pode ser resumida em simples gosto, ou falta de gosto, pelas letras. Não que, para ser presidente, seja preciso ser um gênio literário, ou um acadêmico. Mas o sujeito que chega ao cargo mais alto da nação gabando-se de nunca ter lido um livro na vida, num país de analfabetos, não revela apenas despreparo e preguiça intelectual, além de dar um mau exemplo, mas também, e sobretudo, falta de caráter. Apontar esse fato não é preconceito. É vergonha na cara.
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Passemos ao acordo ortográfico. Já seria piada o fato de seu signatário ter sido Lula - logo ele, que certamente não deve saber soletrar "ortográfico" - e que o evento tenha ocorrido, ainda por cima, na Academia Brasileira de Letras. Isso, por si só, já seria suficiente para demonstrar o caráter absolutamente inútil e demagógico dessa reforma. Mas o problema vai mais além. De acordo com as mudanças introduzidas, a diversidade, riqueza principal da língua portuguesa, sairá terrivelmente prejudicada em favor de uma decisão governamental.

A ordem do dia por trás da reforma é "unificar" o português escrito no Brasil, em Portugal, na África e na Ásia, retirando-se, por exemplo, os acentos agudos em palavras como "jóia" e "idéia", além de aposentar o trema, o que transforma a grafia de palavras como "tranqüilo" semelhante a do espanhol. E isso tudo de uma penada, como quis fazer aquele deputado comunista que queria banir, por decreto, expressões estrangeiras da língua falada e escrita no Brasil (deveria começar pelo nome de seu partido, "comunista" - um evidente galicismo). Em vez de separados pela mesma língua, como disse certa vez George Bernard Shaw ao referir-se ao inglês falado nos dois lados do Atlântico, estaremos, a partir de agora, unidos compulsoriamente pela vontade de nossos governantes.

Que Lula tenha sido o firmante de semelhante aborto é algo bastante simbólico. O acordo ortográfico assinado ontem pelo Apedeuta, desconfio, seria rechaçado por Machado de Assis. Assim como a trajetória do ex-metalúrgico. Provavelmente, ao invés de sugerir a Lula apor sua assinatura trêmula no texto do acordo, o velho Machado lhe recomendaria ler um livro. De preferência, de Gramática. Ou um tratado sobre Ética.

A VERDADEIRA CRISE É MENTAL

Como já escrevi aqui, não sou especialista em economia. Inclusive, e isso admito até com certo pudor, não gosto muito do assunto. Mas a quantidade de besteira que li nos últimos dias sobre a crise do mercado financeiro nos EUA, que ontem atingiu em cheio a Bolsa de São Paulo, agravada pela decisão do Congresso dos EUA de não aprovar o pacote de 700 bilhões de dólares de Bush para ajudar o sistema, por parte de especialistas e simples militantes de esquerda travestidos de analistas sérios, me obriga a tocar nesse tema, que sempre considerei bastante árido e enfadonho.

A primeira frase que ouvi, mal iniciada a quebradeira nos bancos nos EUA, e que desde então tem sido repetida insistentemente, foi o "fim do neoliberalismo". Isso virou um verdadeiro mantra dos adeptos da visão esquerdista, ou simplesmente antiliberais - há um antiliberalismo de direita, senhores! vide a ditadura militar brasileira, por exemplo. "E agora, liberais?", é o título de um artigo de um professor da UNICAMP que leio hoje na Folha de S. Paulo. Em suma, fica parecendo que a culpa da crise foi deles, dos "liberais", os defensores da "mão invisível" e da desregulamentação do mercado, e que a crise seria o resultado, como diz o autor do artigo, de uma gigantesca "operação ideológica", e não dos mecanismos próprios ao sistema capitalista, que convive com crises cíclicas e periódicas. Tudo isso para defender uma idéia só: o "neoliberalismo" morreu e Keynes - ou Marx - estavam certos.
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Será mesmo? Será que é verdade que a crise atual, a primeira da era do capitalismo global, é a prova da ineficiência do livre mercado e da necessidade da mão visível do Estado? Como não poderia deixar de ser, os advogados da tese intervencionista, muitos deles lamentando até hoje a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS, começaram a botar o pescoço para fora, e do alto de suas cátedras universitárias - onde muitos não precisam nem trabalhar para viver -, já defendem uma maior regulamentação do mercado, inclusive no Brasil, país em que capitalismo sempre foi sinônimo de dirigismo e protecionismo estatal, não de livre empresa. Para isso, utilizam os mais intrincados argumentos. Para posar de analistas imparciais, lembram que Nicolas Sarkozy, o presidente da França que não tem nada de esquerdista, defendeu a maior regulamentação estatal dos bancos. Como se o dirigismo fosse característica unicamente da esquerda. Um filósofo conhecido meu escreveu um texto fazendo uma comparação meio literária entre a bancarrota dos bancos e a obra-prima de Goethe, que narra um pacto entre Fausto e o diabo - no caso, os cidadãos comuns que foram lesados pela crise teriam sido enganados e jogados na rua da amargura pelos gatos gordos do mercado financeiro, os "especuladores" tão condenados por Lula, assim como o personagem de Goethe foi enganado pelo tinhoso. Teria sido o Mefistófeles liberal, com suas promessas sedutoras de enriquecimento rápido e de delícias sem fim, o grande responsável pela ruína econômica de milhões de pessoas na terra do "deus-mercado"...
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Não é preciso ser economista ou expert em mercados financeiros para perceber a falácia desse tipo de argumentação. A crise, na verdade, é uma oportunidade de ouro para os inimigos do capitalismo e da própria democracia - e olhem que as duas coisas não são sinônimos - propagandearem suas teses. A pretexto de criticar as reais ou supostas falhas do liberalismo econômico, trata-se na verdade de atacar o próprio capitalismo e a própria noção de liberdade individual que lhe é inerente. Esse tipo de satanização do capitalismo já é um dado cultural, um elemento de nossa própria cultura. Somos ensinados, desde criancinhas, a valorizar não a iniciativa individual, mas a "solidariedade" supostamente encontrada nos regimes socialistas, e a considerar o individualismo e o lucro um pecado, e a "distribuição de renda", mesmo que não haja nada a se distribuir, o valor supremo. Isso, de certo modo, já se tornou um lugar-comum, invadindo até mesmo as novelas de TV (alguém já viu um vilão de novela que não seja um empresário, por exemplo?). Daí não surpreende que muitos insistam em enxergar no capitalismo nada mais do que cupidez e avareza, e no "socialismo", seja ele "real" ou não, um antídoto para todos os males do universo. Mesmo que seja um antídoto muito pior do que a doença, pois deixou um saldo de uns 100 milhões de cadáveres no século XX...

É essa visão demonizadora do capitalismo, de base religiosa e cultural, e não qualquer análise estrutural e científica da economia e da presente crise, sem falar na safadeza ideológica pura e simples, o que está por trás dos anúncios do "fim do neoliberalismo". De acordo com essa concepção, a culpa - outro forte elemento religioso - seria do próprio sistema, visto sempre como um ente diabólico e meio sobrenatural, dirigido por corporações sinistras e indivíduos gananciosos e sem escrúpulos, e que, deixado por si mesmo (ou seja: sem a direção do braço estatal), despertaria o pior nos seres humanos, transformando-os em monstros de ganância e de egoísmo, interessados somente em seus ganhos pessoais e sem o menor compromisso com a "coletividade"... A antítese desse inferno seria, obviamente, o "paraíso" socialista. É essa a conclusão a que nos induzem os críticos esquerdistas do "neoliberalismo". Fica claro que estamos diante de mais uma tentativa ideológica de torcer os fatos para que estes se adaptem à cosmovisão marxista.

Não sou liberal. Pelo menos, não em economia. Não acho que a riqueza e o dinheiro, mas sim a liberdade, seja o fim de qualquer associação política. Para os liberais econômicos, adeptos da religião do livre mercado, este é a solução de todos os problemas - para eles, a China, por exemplo, com seu sistema político comunista e sua economia capitalista, é o melhor dos mundos. Creio que esse é um dos maiores erros que se poderia cometer, e que acaba dando munição aos inimigos da sociedade aberta. Para mim, ao contrário, a liberdade de comércio é apenas uma faceta da democracia, embora indispensável. Não que o capitalismo seja inseparável da democracia - o capitalismo pode conviver com regimes ditatoriais, como na China -, mas, certamente, não há democracia sem capitalismo. Pelo menos até o momento não surgiu nenhum regime democrático que não fosse, ao mesmo tempo, capitalista. Nem surgirá um dia, atrevo-me a dizer.

É isso, em minha opinião, o que torna o capitalismo um sistema superior a qualquer coisa até agora engendrada pelo engenho humano: além da sua capacidade de sair revigorado após cada crise, o fato de que a democracia só pode existir - e isso a história do século XX mostrou à exaustão - em um sistema de livre mercado e livre iniciativa. E é por isso, também, que qualquer defesa do dirigismo estatal cheira a autoritarismo. É isso, e não porque eu queira um dia chegar a ser o CEO de alguma multinacional e ter uma frota de BMWs na garagem, o que me leva a defender o sistema capitalista.

Enfim, sinto dizer, senhores esquerdistas, mas o mundo não vai acabar. A crise que ora assola os mercados norte-americanos e ameaça provocar um colapso certamente passará, como passaram todas as outras. A crise mental que tomou conta de milhões de pessoas, entorpecidas por um antiliberalismo tosco e um antiamericanismo primitivo e idiota, porém, nos acompanhará por muitos anos ainda. Pelo menos enquanto houver quem sonhe com a volta do Muro.

quarta-feira, setembro 24, 2008

MAIS UMA HUMILHAÇÃO

Enquanto Sua Santidade D. Lula Primeiro e Único era louvado na ONU como o redentor dos fracos e oprimidos do mundo, e dava-se até mesmo ao luxo de passar um pito nos americanos pela recente crise financeira dos EUA, criticando o "nacionalismo populista" dos países ricos e a "falta de ética" (pois é...) dos especuladores pela crise, aqui perto, no Equador, um filhote de Hugo Chávez e candidato a ditador latino-americano dava um pé na bunda da construtora Odebrechet, seqüestrava suas obras, mandava o exército ocupá-las e proibia os funcionários da dita empreiteira de sair do país (dois deles, que não puderam fugir a tempo, se refugiaram na residência do embaixador brasileiro, como se asilados políticos fossem). Tudo isso ao arrepio da lei, tanto internacional quanto equatoriana. De quebra, o dito bufão, Rafael Correa, ameaça dar um calote numa dívida de 240 milhões de reais que o governo do Equador tem com o BNDES, por um serviço que, diz ele, não presta.

Desde que outro clone de Chávez, Evo Morales, mandou as tropas tomarem à força as refinarias da PETROBRAS na Bolívia, dois anos atrás, não se via uma agressão mais ultrajante aos interesses brasileiros no exterior. E desde então não se via tamanha demonstração oficial de cumplicidade com a própria humilhação.

Ao saber da ação de Correa, o Chanceler Celso Amorim agiu como um verdadeiro Ministro das Relações Exteriores... do Equador! Em Nova York, onde estava acompanhando Lula na Assembléia-Geral da ONU, ele disse, sobre a tomada das propriedades da Odebrecht e de seus funcionários como reféns por Correa, que a ação do Equador foi "preventiva". Mais um pouco e ele certamente justificaria a ação, como uma demonstração de amizade e amor de Correa pelo Brasil e pela democracia... Lula, por sua vez, disse que o rompante de Correa era só por causa do referendo de domingo, 28/09, sobre a nova "Constituição Socialista" que Correa quer impor ao país, no estilo chavista. É, pode ser. O problema é que, segundo o Apedeuta, isso é algo perfeitamente normal. Como se fosse normal um governante usar os tanques e expulsar trabalhadores estrangeiros para atingir seus objetivos populistas e autoritários. Às vezes, ao justificar as maluquices dos outros, os moluscos, como os peixes, morrem pela boca e deixam entrever suas próprias intenções antidemocráticas. Só faltou Lula ou Amorim virem a público agradecer por mais essa demonstração de amizade de Correa et caterva. E na (própria) bundinha, não vai nada?

Não que o Brasil devesse cortar relações com o Equador e invadir aquele país, o que, até pela dificuldade geográfica, seria dificíl. Nada disso. Não acho que esse fosse também o caso da Bolívia, embora motivos para tanto, inclusive à luz do Direito Internacional, não faltassem. Mas um pouquinho de dignidade, assim como canja de galinha, não faz mal a ninguém.

Até o momento em que escrevo, o governo Lula da Silva não emitiu nenhuma manifestação de desagrado, nenhuma nota de protesto, pela ação intempestiva do governo do Equador. Nem um simples "ui". Nadinha de nada. Pelo contrário: a cada pancada recebida de seus companheiros bolivarianos, o governo brasileiro baixa a cabeça e, tal qual mulher de malandro, parece pedir mais e mais... O Equador pode até não saber por que está batendo, mas o Brasil certamente sabe por que está apanhando. E, quando alguém na oposição (se é que merece ser chamado de oposição o clube de senhoras que assim se chama no Brasil) protesta, clamando por uma reação mais enérgica contra essas arbitrariedades, alguém no governo vem sempre com a resposta pronta: isso vai passar, é preciso agir diplomaticamente e assimilar as perdas, em nome da integração regional etc.... Suponhamos que, em vez de Correa ou Morales, fosse Bush quem resolvesse expulsar uma empresa brasileira, confiscar todos os seus bens e impedir a saída de seus trabalhadores dos EUA. Conseguem vislumbrar o escândalo? Melhor: conseguem ver alguém no governo Lula querendo pôr panos quentes, pois afinal é preciso preservar a amizade e a integração com os americanos? Alguém falou em soberania?

Correa não é o primeiro, nem será o último, a se beneficiar da condescendência dos companheiros petistas no poder em Brasília. O atual presidente do Paraguai, Fernando Lugo, um padre católico adepto da Teologia da Libertação - que melhor seria chamada de Escatologia da Libertação -, já anunciou que irá rever o contrato de construção da usina de Itaipu, pela qual o Paraguai não deu um centavo, obrigando o Brasil a pagar pelo que hoje recebe de graça. Quem quer apostar que o governo Lula vai engolir mais essa, em nome, mais uma vez, da "integração regional"? Nunca a "integração regional" serviu tanto de desculpa para que um país se rebaixasse desse jeito.

Não vou entrar aqui na discussão de se a Odebrecht fez um serviço porco ou não. Pode ser até que tenha feito, e que Rafael Correa tenha alguma razão em mandar os urutus embargar as obras. Mas a questão, obviamente, não é essa. O que merece atenção, nesse imbróglio todo, não é a patacoada populista do fanfarrão Correa, seu nacionalismo desbotado de meia pataca, mas a falta de ação do governo Lula, cuja política externa é tida como "lúcida" e "um sucesso" pela maioria da imprensa brazuca. Os vizinhos populistas do Brasil, como Correa no Equador e Chávez na Venezuela, além de Morales na Bolívia, o casal Kirchner na Argentina e agora Lugo no Paraguai, se especializaram em bater no gigante adormecido, até como uma forma de desviar a atenção de suas trapalhadas internas. Enquanto isso, o governo brasileiro diz amém, aceitando isso tudo como normal, como disse Lula, para quem caixa dois também é algo normal. E por quê?

A resposta para essa pergunta está ao alcance de qualquer um que tiver um mínimo de massa encefálica e que não tenha se transformado ainda num robô apatetado e repetidor de slogans. Trata-se de um assunto que a imprensa brasileira ignorou solenemente por dezoito anos, e que ainda hoje é tratado com um descaso só inferior ao cinismo com que tentaram negar até sua existência: o Foro de São Paulo. Já falei aqui desse convescote de revolucionários e narcoterroristas, fundado por Lula e por Fidel Castro em 1990 para "restaurar na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu". Pois bem. O que isso tem a ver com o jeito palerma com que o Brasil tentou justificar a tunga de Correa? Tem a ver que Correa, assim como Chávez e Morales, e assim como Lula, é membro do dito Foro. Tem a ver que, nessa e em outras questões, os dois governos são comandados não por estadistas, mas por companheiros.

Não é preciso fazer nenhum exercício mirabolante de teoria conspiratória para perceber algo tão evidente. Lembremos apenas da crise ocorrida em março deste ano, por causa da morte de um chefão das FARC, os narcoterroristas colombianos, em território do Equador. O laptop do dito chefe terrorista, Raúl Reyes, revelou para quem quiser ver que Correa homiziava os bandoleiros das FARC em seu território, um crime internacional, condenado explicitamente por resolução da ONU. Mesmo antes da divulgação do conteúdo das mensagens achadas no laptop, aliás, os vínculos de Correa com as FARC eram claros e nítidos. Qual foi, então, a atitude do governo Lula? Ficou totalmente do lado de Correa e das FARC, contra a Colômbia. Agora, vem o melhor: tanto as FARC quanto Lula e Correa fazem parte do Foro de São Paulo. Deu para entender ou será que eu vou ter que desenhar?

Com isso em mente, creio que não fica muito difícil entender a razão da falta de ação do governo Lula diante dos arroubos nacionalisteiros de nossos vizinhos problemáticos. Nunca na história da diplomacia brasileira o Brasil foi tão humilhado. E nunca aceitamos isso tão passivamente, de maneira tão cúmplice e covarde.

Bolsa-Família, a volta do voto de cabresto


Título de reportagem da Folha de S. Paulo de hoje, 24/09: "Bolsa Família sustenta voto de cabresto no Nordeste".

É... Não foi por falta de aviso, certamente. Há tempos venho chamando a atenção, juntamente com alguns gatos-pingados na internet, para o fato de que o assistencialismo estatal lulista não passa de uma forma de atrelar as massas de miseráveis aos donos do poder. Estes já descobriram, há tempos, que o melhor jeito de garantir seus currais eleitorais entre o povão é brutalizando-o, a começar pela barriga. Já denunciei mais essa farsa da era Lula, como vocês podem constatar aqui: http://gustavo-livrexpressao.blogspot.com/2008/03/o-bolsa-famlia-preciso-acabar-para-o.html.

Esse é o governo Lula. Com ele, avançamos céleres rumo ao século XX...

Uma perguntinha para os desarmamentistas


Uma das vantagens - ou desvantagens, dependendo do ponto de vista - de não rezar pela cartilha esquerdista e politicamente correta é saber de antemão o que essas boas almas irão dizer sobre tal ou qual assunto. Ontem, um tarado e débil mental fuzilou dez pessoas numa escola na Finlândia. Quando soube da notícia, pensei imediatamente: "pronto! agora os arautos do 'desarmamento' vão tentar, como já fizeram outras vezes, tirar proveito do fato, compensando a derrota no plebiscito em 2005 e convencendo mais alguns incautos de que a raiz do mal está na posse de armas e que é preciso proibir a posse das mesmas etc."

Dito e feito. Em quase todos os jornais a que assisti, a começar pelo Jornal Nacional, a tônica era a mesma: a culpa é das armas, é preciso desarmar a população etc. etc. Concluí na hora: esse pessoal não desiste. Devem estar até hoje remoendo a derrota de três anos atrás, inconformados por não terem conseguido convencer todo mundo a renunciar ao direito de escolher ter ou não uma garrucha em troca da proteção de José Mayer e Felipe Dylon. Agora botam de novo as manguinhas de fora.

Para não aborrecer muito esse pessoal "do bem", essa gente maravilhosa que, como sabemos, só quer a nossa segurança e já encontrou a fórmula da felicidade humana sobre a Terra, não vou aqui repetir o que já disse extensivamente em outro post. Não vou lembrar, por exemplo, o caso de países como a Suiça, onde cada cidadão tem um fuzil debaixo da cama. Ou da Jamaica, onde as armas são proibidas. Assim como do Japão, onde a proibição também é total, o que não impediu que há alguns meses um maluco tenha trucidado várias pessoas no meio da rua com uma peixeira. Vou me limitar a fazer uma simples pergunta, que espero que alguém do Viva Rio ou do Sou da Paz, com toda sua sapiência, um dia me responda:

- Por que assassinos como o da Finlândia (e de Columbine) sempre escolhem, para abrir fogo, lugares como escolas ou escritórios, e não, por exemplo, uma feira de armas ou um clube de tiro?

Aguardo resposta. Qualquer resposta. Tenho certeza que os desarmamentistas vão me dar uma luz sobre esse assunto. Afinal, eles só querem o nosso bem, não é mesmo?

segunda-feira, setembro 22, 2008

De libertários e ditadores - um artigo excelente

Segue artigo de hoje do colunista Alex Medeiros, do Jornal de Hoje, de Natal-RN. É um sopro de esperança em meio à mediocridade geral, que só se reforçou nos últimos cinco anos. Quando parece que toda a chamada "grande imprensa" do centro-sul, do Globo à Folha de S. Paulo, já engoliu a pílula do lulo-petismo, convertendo-se em porta-voz oficial ou oficiosa das fantasias da cleptocracia esquerdista no poder, eis que vem um jornalista lá da província e repõe, com um texto demolidor, as coisas em seu devido lugar. Renovou minhas esperanças na possibilidade de vida inteligente no país dos botocudos.
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Simplesmente excelente.

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O libertário de ontem é o ditador de hoje
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Millor Fernandes disse há trocentos anos que o perigo maior dos comunistas é quando eles aprendem a contar dinheiro. Vide a fortuna de Fidel Castro, as apropriações dos líderes europeus do Leste, as narco-finanças das Farc e os mensalões e cuecões do PT no Brasil.
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Meu amigo paraibano Bráulio Tavares concluiu anos depois do decano filósofo do humor que "a direita nunca me enganou. A esquerda, já". E lá por volta dos anos 1980, meu lado cazuzo-publicitário ainda vivo compôs o adesivo "Ideologia, eu quero uma pra vender".
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Longe do conhecimento de nosotros brasileiros e ignorada pela imprensa tupiniquim preocupada em pregar a queda do império americano e a falência do capitalismo, a pobre Nicarágua virou uma aldeia abandonada ao deusdará, uma sesmaria ideológica onde a família Ortega constrói fortuna e destrói a democracia.
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O senhor Daniel Ortega, o ex-guerrilheiro que comandou a reação ao ditador Anastácio Somoza nos anos 1970, conseguiu em várias administrações provocar no pequeno país uma hecatombe maior do que o grande terremoto que davastou Manágua em 1972 e levou 10 mil vidas em apenas 30 segundos.
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Quando Ortega e seus guerrilheiros combateram a dinastia Somoza, com ataques a la vietcongs e foram acusados pelo governo de violentos, saiu em defesa deles um senhor grisalho, cinquentão, querido pelo povo por sua importância religiosa e cultural: o então arcebispo Ernesto Cardenal.
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O religioso foi o responsável por um conceito que tirava da luta armada qualquer culpa no campo divino: "não deporemos Somoza com orações, mas com balas". Uma versão brasileira foi composta pelo bispo Pedro Casaldáliga: "Erradicar a fonte da violência não é violência".
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Ao justificar a ação guerrilheira do movimento sandinista, Cardenal estava pondo em prática as pregações do bispo colombiano Camilo Torres, um ícone católico da esquerda latina naquela época. Torres dizia que "o dever de todo cristão é ser revolucionário e o dever de todo revolucionário é fazer a revolução". Mais automático que a escrita de Breton.
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A Nicarágua de hoje é mais um retrato da farsa marxista pregada pela esquerdopatia mundial. Uma nação destroçada, empobrecida, violentada nos mínimos direitos de cidadania, governada por um ex-guerrilheiro com todos os componentes de chefe de quadrilha, um corrupto, um carrasco sanguinário e sem escrúpulos.
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Me assusta quando vejo um radical sentar a bunda no poder. Sua primeira ação é quase sempre passar uma borracha na própria condição pregressa. O Luiz Inácio que hoje ameaça nas ruas um líder que faz oposição no Parlamento, é aquele mesmo que fez oposição radical e até votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.
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Quando liderou a oposição no tempo dos governos Sarney, Itamar, Collor e FHC, o senhor Luiz Inácio foi respeitado como manda o protocolo de uma democracia. Com exceção dos arroubos do alagoano, nenhum chefe de Estado subiu em palanques ou nas tamancas para desancar a outra banda da sociedade.
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Voltemos à Nicarágua. Entre os muitos perseguidos pelo sacripanta Daniel Ortega está um senhor octogenário, cansado de tanta esperança, teimoso na sua fé de uma nação para o povo. Seu sofrimento diante da ditadura atual é o mais frio e cruel retrato do espírito amoral das esquerdas. O corsário comunista persegue Ernesto Cardenal. (AM)

O CAPITALISMO MORREU! (Pela milionésima vigésima vez...)


Confesso que não ligo muito para economia. As notícias sobre o assunto, mesmo quando se trata de uma crise séria e de possível alcance mundial como a que atualmente aflige os EUA, não costumam me despertar maior interesse. Meu conhecimento sobre o tema, já escrevi aqui, não vai muito além de algumas noções básicas sobre macroeconomia e teoria econômica, além de história da economia, aprendidas meio que à força, por obrigação. Acho qualquer assunto que tenha a ver com dinheiro, números, cálculos etc., extremamente entediante. Sempre que o jornal anuncia os números da inflação ou do crescimento do semestre, sou tentado a mudar de canal, como tenho vontade de fazer sempre que William Bonner e Fátima Bernardes anunciam o último treino da seleção brasileira de futebol e a próxima entrevista de Ronaldinho Gaúcho. Nesses momentos, busco em outra emissora alguma informação atualizada sobre a guerra na Geórgia ou sobre a crise na Bolívia. É um defeito imperdoável de minha parte, admito. Mesmo assim, não resisto a escrever alguma coisa sobre algo de que julgo entender um pouco - a manipulação das notícias pela esquerda jurássica e oportunista, que se revela na cobertura de muitos jornais sobre a quebradeira no país de Jorjibúxi.

A falência do banco Lehman Brothers e a intervenção salvadora do governo Bush nos mercados deram o mote perfeito para que os dinossauros colocassem a cabeça para fora da toca e praticassem seu esporte preferido - desancar o capitalismo. Sentindo-se cheios de razão, muitos colunistas, subitamente convertidos em analistas econômicos, como Emir Sader e Luiz Fernando Veríssimo, não perderam essa oportunidade de apontar aquilo que consideram uma contradição gritante do sistema neoliberal norte-americano, que teria, segundo essas mentes privilegiadas de defensores do cleptopetismo estatal e do socialismo cocaleiro-bolivariano, deixado as coisas saírem do controle em nome do "deus-mercado", apenas para apelar para o guarda-chuva do intervencionismo estatal. "É o fim do neoliberalismo", logo se começou a ouvir, com a esquerda, exultante, repetindo Francis Fukuyama - o "último homem", nesse caso, seria o "homem novo" socialista, como um dia quis criar em Cuba o fedorento Che Guevara.

É sempre assim. Ocorre uma crise em Wall Street, as bolsas despencam, os corretores arrancam os cabelos, o governo se vê obrigado a injetar dinheiro para salvar o sistema, e os inimigos do mercado e da sociedade aberta têm verdadeiros orgasmos, anunciando o tão esperado - e, para eles, sonhado - apocalipse. "O capitalismo morreu, o capitalismo morreu!", é o que repetem para si mesmos, nesses momentos, como um mantra. É. Eles têm razão. O capitalismo morreu. Mais uma vez. Sua primeira morte foi em 1929, com o crash da Bolsa de Valores de Nova York e o início da Grande Depressão dos anos 30. Depois, morreu novamente, no começo dos anos 60, quando o então chefão da falecida União Soviética, Nikita Krushev, anunciou em tom solene que eles, os comunistas, iam enterrar os capitalistas. Finalmente, sua missa de sétimo dia ocorreu em meados dos anos 70, quando os mercados entraram em parafuso por causa da crise do petróleo. E foi morrendo e ressuscitando, morrendo e ressuscitando... O capitalismo, em sua encarnação atual de "neoliberalismo", morreu. E vai ressuscitar de novo. E de novo, e de novo. Para consternação dos Veríssimos e Sáderes, que continuarão proclamando, com ares professorais, sua morte iminente e inexorável, como previra o inefável Marx.

Não é preciso ser nenhum gênio para perceber que os esquerdistas, nesse caso como em todos os outros, confundem a realidade com a própria vontade, o que é típico de mentes psicopatas. Acreditam que os 700 bilhões injetados por Bush na economia são o prenúncio do fim do capitalismo (ou do "neoliberalismo", como gostam de dizer) e o início de uma era de ouro de intervencionismo e dirigismo estatal porque assim o desejam. Está sendo assim agora, como o foi antes, e o será depois. Não contentes com essa manifestação de voluntarismo triunfalista travestido de análise econômica, os companheiros também adoram posar de moralistas, acusando o governo Bush - além de tudo, é o governo Bush! - de usar o dinheiro do contribuinte para salvar banqueiros e empresas da falência, como FHC teria feito com o PROER no caso dos bancos. Aqui, seja por auto-ilusão, seja por desonestidade intelectual, seja pelas duas coisas, confundem salvação do sistema com maracutaias - única forma pela qual eles conseguem engatar um raciocínio.

Uma coisa é socorrer empresa falida, como se tornou comum no nosso "capitalismo" de compadres, baseado no uso e abuso do dinheiro público para compensar a incompetência e os desmandos de empresários que vivem de mamar nas tetas da vaca sagrada estatal - algo de que os petralhas entendem bastante. Outra coisa, muito diferente, é manter os fundamentos e a estabilidade do sistema econômico, impedindo uma reação em cadeia que pode degenerar em colapso para todos. É para isso, a propósito, que existe o Estado. Ou, como diz Reinaldo Azevedo em seu blog: "É evidente que o estado não deve socorrer empresa quebrada. Que quebre! É do jogo. Mas é preciso distinguir esse tipo de intervenção, muito comum em Banânia, da chamada crise sistêmica, da quebradeira geral — que não puniria apenas as empresas incompetentes e os especuladores. Também o dinheirinho no banco do homem comum, que é o verdadeiro dono da grande massa do meio circulante do sistema, iria para a cucuia."

Já relatei aqui a época em que eu militava numa seita de extrema-esquerda, que defendia a derrubada do capitalismo e a revolução proletária mundial, no começo dos anos 90. Naqueles tempos de porralouquice, lembro bem, começávamos qualquer análise de conjuntura com o seguinte mantra: "o capitalismo, em sua fase final de crise (ou desintegração)..." Era a plena época, vejam bem, de euforia econômica do início da globalização. Mesmo assim, tínhamos como certa e verdadeira a noção de que o capitalismo entraria em crise, mais cedo ou mais tarde, e que seu colapso era inevitável. Isso, para nós, era um dogma, um fato da natureza, assim como o nascer e o pôr do sol. Pois é. Certas coisas não mudam mesmo. O capitalismo vive de crises cíclicas e periódicas, renovando-se e fortalecendo-se após cada uma delas. O socialismo, ao contrário, é perfeito, como demonstrou o século XX.

Até a próxima crise. E até a próxima morte e ressurreição do capitalismo.

sexta-feira, setembro 19, 2008

A CORAGEM DE TER MEDO

Eis alguém realmente sem medo... (Buster Keaton)

Um amigo meu enviou-me a seguinte notícia por e-mail: de acordo com pesquisa recente, cientistas norte-americanos comprovaram que as opções políticas têm uma base biológica. Quem se identifica mais com as posições de direita, por exemplo, é movido principalmente pelo medo. Isso ajudaria a explicar muitas das escolhas políticas da direita norte-americana, que seria mais desconfiada e mais precavida contra ameaças como o terrorismo. Em outras palavras: direitistas seriam mais medrosos. Como sou um reaça e um troglodita fascista, do tipo que vê comunistas até embaixo da cama, meu amigo conclui no e-mail, em tom de brincadeira, que eu sou um "amarelão".

Sou tentado a concordar com o resultado da pesquisa, mas por um motivo, digamos, diferente. Concordo que o medo, pelo menos nos EUA, é um fator de diferenciação da direita norte-americana dos que seriam os representantes da esquerda (lá eles são chamados de "liberais"), os apoiadores de Obama e do Partido Democrata. Mas estou longe de considerar isso algo negativo. Pelo contrário.

O medo é um instinto altamente salutar e progressista. É uma condição da sobrevivência. Sem ele, não há civilização. É o medo que tem garantido, até o momento, a existência da própria humanidade. Foi o medo dos predadores e das intempéries que levou o homem a desenvolver a técnica e dominar a natureza. O medo, em suma, é um elemento indispensável a uma visão realista do mundo, de seus riscos e perigos, e à preservação da espécie.

Ao contrário, a ausência de medo, o destemor absoluto, cheira a imprudência e a namoro com o perigo. Pior: beira a ingenuidade. O sujeito que não tem medo, em política, vira um bobalhão, um leso, sendo facilmente enganado pelo primeiro malandro e espertalhão que aparecer. Em outras palavras, aquilo que, em outros tempos nem tão distantes, se chamava de "inocente útil" (prefiro o termo em inglês: useful idiot, literalmente, "idiota útil"). É o medo, a prevenção contra seus inimigos, o que garante a democracia. Ao contrário, a falta de medo, a confiança excessiva, costumam preceder seu fim. Foram políticos demasiadamente confiantes e sem medo que fecharam os olhos para o expansionismo hitlerista nos anos 30, que resultou na Segunda Guerra Mundial. Foram homens destemidos que permitiram várias vitórias dos comunistas durante a Guerra Fria, como na China, em Cuba e no Vietnã. E são valentes democratas, sem um pingo de medo do terrorismo islamita da Al-Qaeda, que atacam sem tréguas a política de Bush no Iraque, acusando os republicanos, como McCain e Sarah Palin, de terem uma visão por demais hobbesiana do mundo.

Por outro lado, é preciso muita coragem para ser de direita no Brasil. Aqui, como se sabe, alguém se dizer de direita equivale a tirar um passaporte para o ostracismo, um verdadeiro atestado de óbito social. O sujeito é tachado com os piores adjetivos, e imediatamente se torna um pária, um excluído. Não por acaso, nenhum intelectual ou professor universitário se atreve a fazê-lo, por receio de ter as portas fechadas para ele. Nas escolas, universidades, redações de jornal, até na mesa de bar, quem quer que se diga abertamente de direita terá de enfrentar uma muralha de unanimismo esquerdista construída por décadas de doutrinação ideológica, segundo a qual "capitalismo" é a encarnação do mal, e "socialismo", o bem absoluto. Vigora no Brasil um espírito de manada, pelo qual destoar da maioria e pensar com a própria cabeça é a pior das heresias. Muita gente, diante disso, acaba desistindo de expor suas opiniões e termina acompanhando a multidão, temendo ferir suscetibilidades e criar desafetos. Entre ter uma opinião e ser boas pessoas, ficam com a segunda opção. De certo modo, o Brasil é uma república soviética.

Aliás, por estas bandas, é preciso coragem até para ter medo. Que o diga a atriz Regina Duarte, que foi quase crucificada e ridicularizada em 2002. Vocês se lembram. Naquele ano, durante as eleições presidenciais, ela ousou ir à TV confessar que tinha medo do Apedeuta. Os fatos que se seguiram, principalmente em 2005, o Ano do Mensalão, deram-lhe razão. Regina Duarte certamente não sabia o que viria a seguir, nem quais eram as verdadeiras intenções de Lula e dos petralhas, principalmente em economia; por isso, disse que tinha medo. Era o desconhecimento que alimentava seu temor. Muita gente ainda acha que ela estava exagerando, pois afinal a política econômica adotada pelo governo Lula mostrou-se correta. Para mim, este é mais um motivo para ter um pé atrás com os lulistas: quem se converte repentinamente ao que sempre condenou com todas as forças apenas porque chegou ao poder, sem nenhuma confissão nem arrependimento, não revela lucidez nem bom senso, mas apenas desonestidade.

Quando confessou seu medo na TV, Regina Duarte não sabia nada, e continua não sabendo, sobre o Foro de São Paulo, as articulações de Lula e cia. com os protoditadores Hugo Chávez e Evo Morales, as ligações dos petistas com os narcoterroristas das FARC, os objetivos antidemocráticos e pró-totalitários da turma do PT e seus aliados, as tentativas de calar a imprensa, a devoção quase religiosa de Lula por Fidel Castro etc. Nem tampouco sobre a gigantesca lavagem cerebral gramsciana a que a população brasileira está sendo submetida, sem se dar conta, há pelo menos trinta anos, e para a qual somente um punhado de medrosos e amarelões direitistas, paranóicos e conspiracionistas, prestam atenção e denunciam. Diante disso, é de se perguntar: é para ter medo ou não é?

Até mesmo para ter medo e denunciar os lulistas é preciso ter coragem no Brasil. A que ponto chegamos.

O ESTRANHO CRITÉRIO DO GOVERNO LULA PARA CONCEDER ASILO POLÍTICO...

Do blog de Reinaldo Azevedo, hoje, 19/09. Precisa comentar?
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Lula nega asilo a opositor boliviano; governo petista recebe é narcoterrorista!
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Leiam o que vai abaixo, por Denise Chrispim Marin, no Estadão. Volto depois:
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Para demonstrar que não interferiria no conflito interno boliviano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou a diplomacia brasileira a negar asilo político ao governador do Departamento de Pando, Leopoldo Fernández. A prisão de Fernández havia sido determinada no domingo pelo gabinete de Evo, mas foi adiada por temor de sua detenção prejudicasse o apoio da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) - que se reuniu segunda-feira, no Chile - a seu governo. Fernández foi detido terça-feira.
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No domingo, seus parentes apresentaram o pedido de asilo político no Vice-Consulado do Brasil em Cobija. No mesmo dia, o caso foi levado ao Itamaraty e, na segunda-feira, Lula, ainda no Chile, tomou a decisão final. O Itamaraty e o Palácio do Planalto não se pronunciaram sobre o assunto.
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Desde terça-feira, o Itamaraty está ciente de que a prisão de Fernández contraria os preceitos legais da Bolívia e o status de imunidade dos governadores dos departamentos (Estados). Fernández foi preso sob a acusação de ter desacatado o estado de sítio em Pando e incitado os confrontos entre manifestantes pró-Evo e opositores, que terminaram com 18 mortos. Pelos trâmites normais, ele deveria ter sido julgado antes pelo Congresso. Ontem, um pedido de habeas-corpus para Fernández foi rejeitado.
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Assinante lê mais aqui
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Comento
Que fique claro: é a diplomacia do Foro de São Paulo em ação. A prisão do governador foi ilegal, e não há provas de que ele seja responsável pela morte de camponeses. É um caso típico de confronto e perseguição política ilegal, o que, é óbvio, o torna um “asilável”. Não no Brasil.
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É evidente que a questão é ideológica. Lula aceita o narcoterrorista Olivério Medina no Brasil, que integra um movimento que tenta depor um governo democrático. Não só isso: Dilma arrumou um serviço no governo federal para a mulher de figura tão impoluta. Os e-mails do terrorista pançudo provam que Medina continua ligado à organização. A lei proíbe que asilados se envolvam em disputas políticas em seus países. O Brasil que rejeita o governador boliviano é o mesmo que “devolveu” a Fidel Castro os pugilistas que fugiram de Cuba.
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A isso chegamos. Entreguem o Itamaraty a Fernandinho Beira-Mar.

quinta-feira, setembro 18, 2008

ISLÃ, PEDOFILIA E ASSASSINATO - A BARBÁRIE JUSTIFICADA


As duas frases foram pronunciadas nesta semana. Comento depois.

"Uma menina de nove anos dá com frequência melhor resultado na cama do que uma jovem de 20".

“É lícito matar quem quer que apele à discórdia se não for possível impedi-lo. É lícito matar, por intermédio da justiça, todo predicador da depravação das crenças ou de atos, se se revela impossível de impedi-lo por sanções menores que a morte”.

Quem fez as afirmações acima? Aí vão três opções. Escolha a sua:

a) um pedófilo e um psicopata, justificadores do estupro de menores e do assassinato puro e simples;

b) dois honrados cidadãos, respeitados por suas comunidades;

c) dois teólogos muçulmanos, fiéis e piedosos cumpridores da Lei do Profeta.

Se você escolheu a opção "a", acertou em cheio. Se optou pelas alternativas "b" ou "c", também está certo. As três opções estão corretas.

A primeira afirmação foi feita pelo renomado teólogo marroquino Mohamed Ben Abderrahman Al Maghraoui, numa fatwa, um decreto muçulmano, em que fala das vantagens do casamento com meninas de 9 anos de idade, escreve o jornal espanhol El País. Al Maghraoui é um pensador islâmico bastante respeitado em seu país.

A segunda frase foi dita pelo xeque saudita Saleh Al-Louheïdane, membro do Conselho Superior dos Ulemás e presidente do Alto Conselho de Justiça da Arábia Saudita. Al-Louheïdane estava justificando uma fatwa contra os que promovem a fitna (discórdia) entre os muçulmanos, como os produtores e atores de filmes e programas de TV considerados obscenos e ofensivos, de alguma maneira, à fé islâmica. Para ele, assim como para Osama Bin Laden e para o aiatolá Khomeini, é lícito exterminar quem mostre cenas julgadas indecentes ou pronuncie palavras blasfemas, como, por exemplo, os contadores de piadas indecorosas e as mulheres que desfilem de maiô ou biquíni em concursos de miss. É perfeitamente lícito matá-los. Mais que isso: é um dever de todo bom muçulmano fazê-lo. Um dever sagrado, chancelado pela religião.
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Fatos como os citados acima não deveriam deixar dúvidas sobre o caráter bárbaro e criminoso de certas crenças. Mas sempre haverá quem procure justificar seus autores, por mais absurdas que sejam tais declarações. Quem quer apostar que os arautos do relativismo e do politicamente correto, os defensores do "respeito às diferenças", os multiculturalistas, já têm pronta a resposta para tamanho disparate? No mínimo, dirão que os dois clérigos mencionados aí em cima "não falam pelo Islã" (quem fala então? os multiculturalistas? eles agora são autoridades religiosas também?). Isso para repetir, pela enésima vez, que o Islã, apesar da realidade, é uma religião "de paz e de tolerância". Se nenhum desses argumentos colar, ainda têm um trunfo: dirão que os conceitos de pedofilia e de incitação ao assassinato, na verdade, não passam de preconceitos ocidentais e eurocêntricos contra uma cultura que não entendemos. Com isso esperam justificar o injustificável. Nesse caso, deveriam dar o exemplo, renunciando aos direitos humanos "ocidentais" e entregando suas filhas menores de idade, se as tiverem, aos cuidados de algum imã ou mulá. Será que fariam isso?

As declarações de Al Maghraoui e do xeque Al Lohedaïne, longe de serem simples manifestações isoladas de mentes pervertidas e fanatizadas, são a expressão fiel de algo que venho tentando mostrar há tempos neste blog: que o Islã - como aliás qualquer outra religião, ou seja, qualquer crença fundada não na razão, mas na fé irracional e cega - está para a civilização e o século XXI como a água está para o óleo. A justificação da barbárie, seja na forma do terrorismo, seja na forma de pedofilia, é algo que lhe é intrínseco, assim como as Cruzadas e a Inquisição eram intrínsecas ao cristianismo medieval.

Muito se fala sobre os crimes de pedofilia e de intolerância na sociedade ocidental. Vez ou outra, a Igreja Católica é sacudida pela revelação de abusos de padres e bispos contra coroinhas, e algum pastor protestante é flagrado em uma declaração considerada preconceituosa ou homofóbica. Quando isso ocorre, a indignação, nesses casos, é total, e os pedidos de punição ou de reparação são imediatos e implacáveis. É estranho como, no caso de clérigos de outras religiões, porém, o mesmo fenômeno não se verifica: é que a violência contra crianças e o homicídio, nesse caso, são parte da "cultura"...

De todos os males que afligem a humanidade, o fundamentalismo religioso é o que tem mais defensores. Sobretudo, se for oriental e trouxer a marca de oposição ao Ocidente e ao "imperialismo", o fanatismo em questão sempre terá quem o defenda com unhas e dentes. Não há como se livrar desse flagelo sem ir fundo em suas raízes, ou seja, sem questionar os próprios fundamentos da fé. Somente assim seremos capazes de olhar para o "outro" livres de qualquer preconceito. Nosso ou, principalmente, deles.

terça-feira, setembro 16, 2008

A FARSA LULA

Os petistas estão exultantes. Pesquisa mais recente mostrou que 64% da população brasileira considera o governo Lula da Silva "ótimo" ou "bom". É o maior índice de popularidade de um presidente da República nos últimos vinte anos. "E aí? Ainda vai falar mal de nosso líder?", é a pergunta que não perdem a chance de fazer nessas horas os adoradores do Molusco.

Para tristeza da petralhada, vou continuar falando mal de Lula, sim. Agora, com ímpeto redobrado. A popularidade de Lula é mais uma prova da necessidade de criticá-lo. É mais um argumento a favor dos que o atacam e insultam. Não o contrário.

Os petistas e seus cupinchas acham que a popularidade de um mandatário é a prova da excelência de seu governo. Mais: acreditam que isso o exime de qualquer responsabilidade por seus desmandos. É como se dissessem: "viram? 64% de aprovação! Que mensalão, o quê! Que valerioduto, caixa dois, dossiê coisa nenhuma!". É típico de totalitários pensar assim.

O ex-presidente Garrastazu Médici era bastante popular. Salvo engano, até mais do que Lula. Hitler e Mussolini também. Stálin e Mao Tsé-tung eram idolatrados como deuses. E nem por isso se vê alguém usando a popularidade deles para inocentá-los ou justificá-los. Seus crimes não se tornaram menos crimes por causa disso.
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Assim como urna não é tribunal, popularidade não é atestado de inocência, nem de caráter. Na verdade, ocorre justamente o contrário: a popularidade, para esse tipo de governante, é vista quase sempre como um álibi, como um cheque em branco para fazerem o que quiserem e detonarem a democracia. Quanto mais popular for Lula, mais haverá motivos para descer a ripa no Apedeuta.

A popularidade de Lula tem uma causa principal: a economia. Aqui a farsa lulista se revela em toda sua desfaçatez. O governo Lula é uma farsa total, ética, política - e também econômica. Para os economistas, Lula é um bom presidente, apesar de ignorante e corrupto, pois tem mantido a política econômica "neoliberal" de FHC. É mais um engodo.

Se os lulistas mantiveram, à revelia de muitos petistas, a responsabilidade fiscal e as metas de inflação, isso não se deve a nenhuma conversão dos mesmos aos princípios da economia de mercado, mas a um simples cálculo político. Seu objetivo não é garantir a estabilidade e os fundamentos do capitalismo, mas, assim como os burocratas do Estado chinês, manter o poder. É isso que explica essa conversão sem confissão nem arrependimento (uma falsa conversão, portanto), e não qualquer lampejo de racionalidade por parte dos petralhas. Nada impede que, aparecendo a oportunidade de fazê-lo, ou em momento de crise, eles recorram ao velho receituário nacional-estatista, se lhes for conveniente.
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Cegos pelos números da economia e pelo crescimento do PIB, a maioria dos economistas liberais não percebe essa grande empulhação. Não se dão conta de que o compromisso dos lulistas com a estabilidade econômica é instrumental, não filosófico. Assim como puramente instrumental é seu compromisso com a ética e a democracia (é bom porque é útil, única e simplesmente). Vêem como competência o que é apenas oportunismo e dissimulação.

Outra fonte do cartaz de Lula junto aos pobres é, claro, o Bolsa-Família. Não é de hoje que se sabe que programas assistencialistas são muito populares, como provam os currais eleitorais dos antigos coronéis do sertão. Lula não fez mais do que seguir essa tradição paternalista, federalizando-a. Ao fazer isso, ele se tornou o padrinho de milhões de crianças de famílias miseráveis do interior, que, para a glória e felicidade dos lulistas, ficarão um pouco menos miseráveis e muito mais dependentes do pai-Estado. Como não falar mal disso?

A popularidade de Lula diz mais sobre os que o aprovam do que sobre ele em si. Um povo que coonesta a mentira e a safadeza não pode exigir coisa melhor. A popularidade de Lula não surpreende. O inverso é que seria estranho. Afinal, ser impopular, como sabemos, é para quem fala a verdade, não para políticos.
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Um antigo lema udenista dizia que somos um país honrado governado por ladrões. Concordo com a segunda parte.

segunda-feira, setembro 15, 2008

EVO, O AMORALES


Obs.: Prometo que, até o final deste texto, eu não vou falar em FORO DE SÃO PAULO, nem em COMUNISMO, nem em CONSPIRAÇÃO ESQUERDISTA etc. - afinal, todos sabem que tudo isso é mera invenção de um bando de reacionários a soldo da CIA e liderados pelo líder da conspiração direitista mundial, Olavo de Carvalho. Vamos lá.

Esqueçam as ofertas milionárias de Wall Street. Deixem para lá aquela oportunidade maravilhosa de trabalho como CEO daquela poderosa multinacional. Podem esnobar o cargo de confiança oferecido por aquele dono de agência publicitária badaladérrimo. O melhor emprego do mundo é o de presidente da Bolívia. Se seu nome é Evo Morales, então, pode ficar sossegado: aí você estará no Paraíso, com as mãos livres para fazer o que quiser, pois estará cercado de amigos que virarão o mundo - e a lógica - pelo avesso para justificar suas trapalhadas.

Desde que assumiu o poder na Bolívia, Evo Morales mergulhou o país no caos, amparado num discurso fajuto de líder messiânico indigenista - ele é apresentado como "o primeiro presidente índio da história da Bolívia" - que pretende recriar, em terras bolivianas, a fantasia de um suposto reino encantado quéchua ou aymará, como supostamente foi um dia - uma imensa reserva Raposa Serra do Sol, com tintas vagamente socialistas. Com uma retórica antiimperialista e pró-cocaleiros, o índio de araque Morales vem concentrando, desde 2006, poderes em suas mãos, seguindo os passos de seu guia e mentor, Hugo Chávez. Para tanto, ele vem instigando a divisão do país entre o Altiplano andino, pobre e de população majoritariamente indígena, e a chamada "meia-lua", os cinco estados (departamentos) do leste, mais ricos e mais brancos. É na região da meia-lua que se concentra a maior parte do gás boliviano, a maior riqueza do país. Morales vem transferindo recursos do leste para seu curral eleitoral andino, o que tem provocado a revolta dos governadores dessa região, que agora explodiu em protestos violentos contra o governo central. Os habitantes dos departamentos de Pando, Beni, Tarija, Chuquisaca e Santa Cruz estão revoltados pelo que julgam uma série de atentados contra a autonomia regional e uma transferência indevida de recursos pelo governo de La Paz. Diante dessa situação, Morales não se fez de rogado: expulsou o embaixador dos EUA. Afinal, sempre haverá quem culpe a Casa Branca pela baderna em que se transformou o país desde que ele, Morales, chegou ao poder, e além disso esse discurso costuma ser muito eficiente para desviar a atenção do envolvimento com narcoterroristas e com malas suspeitas de dinheiro - daí porque Hugo Chávez, o patrono venezuelano de Morales, fez o mesmo, expulsando também o embaixador estadunidense de Caracas. Para que procurar as causas da bagunça, se há um bode expiatório bem ali, dando sopa? Na ausência de quem culpar, culpe os gringos, ora!

Por que digo que Morales tem o emprego mais cobiçado do mundo? Não por causa da Bolívia, claro. Como país, a Bolívia está para o mapa político mundial mais ou menos como o Nepal ou Tuvalu: um lugar exótico, mas sem nenhuma relevância, a não ser, claro, pelo gás. Nossos vizinhos não sabem fazer outra coisa a não ser confusão. Mesmo assim, o cocaleiro bolivariano tem vários motivos para considerar sua posição invejável: para começo de conversa, ele sabe que tudo que fizer, desde cortar o fornecimento de gás para o Brasil até expulsar o embaixador norte-americano, terá o respaldo imediato de uma legião de aliados e simpatizantes em outros países. Já foi assim há dois anos, quando ele resolveu mandar os tanques tomarem, à força, duas refinarias da PETROBRAS, e recebeu, em troca, uns tapinhas nas costas de seu colega brasileiro, Lula, sempre compreensivo com o "companheiro" Morales... Sendo presidente de um país pobre, o mais pobre da América do Sul, ele sempre poderá usar a própria pobreza nacional como pretexto ("coitados, precisamos ajudá-los..."), mais ou menos como o ditador da Coréia do Norte, Kim jong-il, faz com o mundo, chantageando-o com a própria miséria do país e com a ameaça nuclear para obter ajuda financeira. Tendo, ainda, algum sangue indígena - como a maioria dos bolivianos, aliás um povo essencialmente mestiço -, ele possui ainda o trunfo do exotismo, podendo posar, como faz com freqüência, de "índio legítimo", que veio para vingar os quinhentos anos de domínio pela "elite branca" - um discurso que faz muito sucesso, paradoxalmente, entre as elites instruídas sul-americanas e européias, que adoram entregar-se morbidamente ao esporte da auto-flagelação e da expiação de pecados passados da Europa colonialista... Gente, enfim, que já está perfeitamente adestrada a justificar qualquer desmando do cocaleiro bolivariano. Em circunstâncias assim, quem não teria inveja de Morales?

No exato momento em que escrevo, os governantes sul-americanos estão reunidos em Santiago do Chile para tentar chegar a uma solução para mais essa crise. Lula, inclusive, já se ofereceu, ou foi convidado, a "mediar" o conflito entre Morales e a oposição. Muitos se perguntam: já que Lula é tão amigo de Morales, por que ele não usa de sua influência para "moderar" seu aliado?... Como se os dois não fossem fechados um com o outro há muito tempo, e inclusive como se não fizessem parte da mesma organização, o Fo... (ops, quase que eu disse!). Não importa. De qualquer maneira, mais uma vez, veremos um exercício de enxugar gelo e ensacar fumaça. Pelo menos até a próxima crise. Esta tem um nome. É Evo Morales. É Chávez. É Lula.

quinta-feira, setembro 11, 2008

DE SETEMBROS E SETEMBROS

"Apenas uma terça-feira como outra qualquer..."


Hoje é 11 de setembro. Uma data que, por antonomásia, já se tornou sinônimo de barbárie e de demência. Não só para gente como eu, "reaças" e "direitões", que insiste em enxergar diferença entre bem e mal, entre um pato e uma porca (com ou sem batom, para fazer uma homenagem ao Obama). Também os esquerdistas, o "lado bom da humanidade", como eles não se cansam de se autoproclamarem, celebram, a seu modo, a data. No caso, porém, o setembro deles é outro, o país também: Chile, 1973.
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Então, para fazer uma homenagem a esse pessoal, como a que o professor Carlão fez em relação aos mortos do World Trade Center, eu publico aqui um texto do pensador francês, recentemente falecido, Jean-François Revel sobre o golpe de Pinochet no Chile. O texto, escrito em 1983, é o melhor resumo que eu já li até hoje do que realmente aconteceu naquele país.
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A tradução é minha. Quem quiser ler no original em francês, é só acessar aqui: http://s.huet.free.fr/kairos/aletheia/jfrev4.htm.
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Boa leitura!


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Quando o general Pinochet matou a democracia, ela já estava morta...
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Jean-François Revel


No momento do décimo aniversário do golpe de estado que custou a Salvador Allende ao mesmo tempo seu poder e a vida, e ao povo chileno a democracia, é chegada a hora de tentar uma análise séria da tragédia de 1973 e de suas causas? Duvido. As paixões, as barreiras ideológicas, ainda o proíbem, receio. A esquerda internacional, depois de dez anos, se aferra a uma versão dos fatos e a uma somente: Allende foi derrubado e assassinado por um complô militar-fascista apoiado pelos Estados Unidos, e quem quer que queira fazer o balanço das responsabilidades do governo da Unidade Popular se vê acusado de cumplicidade com Pinochet.

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A esquerda, no mundo inteiro, desejava ver uma experiência de socialismo democrático ser enfim bem-sucedida; ela tinha dito tanto que a prudência de Allende no Chile constituía essa experiência, que lhe foi impossível atribuir o fracasso a outra coisa que causas puramente artificiais. Entretanto, bem antes do golpe de estado, todos estavam a par da deterioração da situação ao mesmo tempo econômica e política. Sabia-se quão graves eram a inflação, demencial até para a América Latina, a penúria alimentar, o racionamento, as grandes manifestações de caminhoneiros a quem faltavam peças sobressalentes ou de donas-de-casa batendo suas panelas, porque não encontravam mais no mercado do que enchê-las. Mas a esquerda não carecia de explicações taxativas para tudo isso: o caos econômico provinha do complô das multinacionais e dos bancos que organizavam o "bloqueio" do Chile e lhe cortavam as linhas de crédito para asfixiá-lo.
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Quanto aos manifestantes, eles eram evidentemente lançados na rua pela CIA. Ora, admitindo-se mesmo que os serviços especiais estrangeiros tenham podido fornecer os manifestantes, mal se vê como dezenas de milhares de cidadãs e cidadãos de camadas incontestavelmente médias e modestas tenham podido ser assim mobilizados sem ser empurrados por um autêntico descontentamento popular. A tese é absurda e aliás antimarxista.
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Quando os mineiros das minas de cobre que a Unidade Popular tinha acabado de nacionalizar (o processo tinha começado antes, sob a presidência democrata-cristã de Eduardo Frei) entraram em greve contra o regime, eu encontrei socialistas em Paris que me explicaram que esses operários tinham sido subornados pela embaixada dos Estados Unidos! Quanto às linhas de crédito, há muito tempo que se demonstrou que elas nunca foram realmente cortadas. As dívidas chilenas tinham sido várias vezes reescalonadas, novos créditos consentidos e, quando Allende foi assassinado, ele dispunha, ó paradoxo!, de mais facilidades em divisas fortes do que qualquer um de seus predecessores. A falência econômica resultou, pois, mais de causas internas do que de causas externas.
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O mesmo vale para a falência política, a decomposição do Estado, as ilegalidades numerosas que já tinham sufocado o funcionamento da democracia antes que o exército fizesse. Quando Pinochet matou a democracia no Chile, ela já estava morta. O país estava em uma situação de pré-guerra civil. O regime tinha no começo procurado de toda boa-fé traçar um caminho legal rumo à mudança da sociedade. Poderia tê-lo feito, sabendo-se que Allende tinha sido eleito com apenas 36% do voto popular? Muito rápido ele esbarrou nas resistências da sociedade civil e tentou submetê-las, empurrando o proletariado urbano a um comportamento revolucionário de "ruptura".
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A Unidade Popular se pôs a combater não somente os grupos privilegiados, mas as classes médias, destruindo um capital humano raro na América Latina e que se tinha formado em meio de uma lenta maturação. Mais do que um meio de distribuição da renda, o racionamento se tornou um instrumento de vigilância e de fichamento das pessoas. Milhares de revolucionários profissionais estrangeiros, provenientes do continente latino-americano e de outros continentes, se infiltraram, com a cumplicidade do governo, em todas as atividades, para as dirigir seguindo normas puramente políticas que anunciavam o partido único. O próprio exército não estava ao abrigo da subversão subterrânea, no momento mesmo em que Allende, em abril de 1973, nomeava generais em seu governo para que eles o ajudassem a submeter o caos em que afundava o país.
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A escola pública foi submetida a um monolitismo ideológico e autoritário. É que o partido socialista chileno, e em particular sua ala esquerda, o MIR, não era somente de reformistas ou sociais-democratas. O partido era marxista-leninista em sua doutrina e bem pouco diferente, por seus métodos, de seu aliado comunista.
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À véspera do golpe de estado, Salvador Allende já não podia mais manter no poder de forma democrática a Unidade Popular tal como ele a tinha constituído. Ele vislumbrava um governo de união nacional com a democracia cristã, solução que foi rechaçada pelo partido socialista e pelo partido comunista. Pensava em um referendo que ele teria inevitavelmente perdido, pois os pretensos ganhos eleitorais realizados pela Unidade Popular nas municipais de março de 1973 tinham sido devidos em parte à fraude e não lhe tinham dado ainda assim a maioria. Restavam possíveis seja a guerra civil, seja a passagem ao sistema totalitário do partido único de tipo castrista, o que tinha exigido o apoio de pelo menos uma parte do exército, seja o putsch em um sentido fascista. Sabe-se que, infelizmente, foi esse último que prevaleceu. Mas os dois outros não teriam sido menos catastróficos.
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Hoje, quando Pinochet vacila, quando ele é obrigado por seu turno a evoluir, do mesmo modo aliás que outros ditadores de direita, na Argentina, na Turquia, no Paquistão, desejemos que a esquerda se mostre capaz de aproveitar de novo esta chance histórica sem demência ideológica, em um quadro de um retorno "à espanhola" rumo à democracia.

quinta-feira, setembro 04, 2008

JUSTIÇA - E MEMÓRIA - SELETIVA (OU: COMO DISTORCER A HISTÓRIA PARA QUE ELA DIGA SÓ O QUE NOS CONVÉM)

Republicanos espanhóis treinam pontaria em uma estátua de Cristo, década de 30: para as esquerdas, apenas seus mortos contam


Leio hoje na imprensa: o juiz espanhol Baltazar Garzón ordenou nesta semana que se comece a reunir informações sobre os desaparecidos durante a Guerra Civil na Espanha e a subseqüente ditadura, com o objetivo de - abre aspas - "montar uma lista confiável de vítimas dos conflitos".
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Para quem não conhece o personagem citado acima, vou apresentá-lo: Baltazar Garzón é aquele juiz que, em 1998, causou uma onda de furor mundial ao mandar prender e tentar extraditar para a Espanha o ex-ditador do Chile Augusto Pinochet, falecido dois anos atrás. Desde então, ele, Garzón, tornou-se conhecido mundialmente como um perseguidor implacável de ex-ditadores, sobretudo generais sul-americanos, e um herói dos direitos humanos para os esquerdistas.
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O que quer o meritíssimo juiz? Cito mais uma vez a imprensa, no caso o portal Terra de hoje, 4 de setembro: "Garzon emitiu um pedido para que líderes religiosos, prefeitos e outras autoridades coletem informações sobre as pessoas mortas pelos exércitos do general Franco após a ascensão dele ao poder, em 17 de julho de 1936". Aparentemente, algo muito justo. Mesmo sabendo-se que Franco morreu trinta e três anos atrás, em 1975, e que desde então a Espanha é uma democracia. Aparentemente. Porque, se o objetivo do juiz Garzón fosse mesmo fazer justiça, ele não se cingiria a um lado somente da contenda. Leiam de novo a notícia. Lá está escrito, por acaso, que Garzón mandou que se investigassem as mortes causadas pelos dois lados do conflito, ou simplesmente os mortos na Guerra Civil Espanhola? Nada disso. O que ele quer são informações sobre as pessoas mortas - vou repetir, mais uma vez entre aspas - "PELOS EXÉRCITOS DO GENERAL FRANCO após a ascensão dele ao poder" etc.
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Perceberam a manobra? Entenderam a impostura? Captaram a tapeação, a empulhação, a mentira?
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A iniciativa do juiz Garzón não tem por objetivo fazer justiça coisa nenhuma. É mais uma malandragem retórica, uma tentativa espertalhona de distorcer a História travestida de humanitarismo jurídico. No caso, a História da Guerra Civil Espanhola, um conflito que resultou em cerca de meio milhão de mortos entre 1936 e 1939. Aqui, repete-se com esse episódio o mesmo sofisma que se tornou lugar-comum para outros fatos históricos do século XX, como a Guerra do Vietnã e as ditaduras militares sul-americanas: as vítimas foram de um lado apenas. Até hoje, quando se fala na Guerra Civil Espanhola, a primeira coisa que vem à mente é o bombardeio da cidade de Guernica pela Legião Condor de Hitler a serviço dos franquistas - fato imortalizado no célebre quadro de Pablo Picasso, que pintava coisas a soldo do Partido Comunista -, e não o que os dois lados fizeram. É preciso lembrar. O meio milhão de mortes no conflito que ensanguentou a Espanha e que o juiz Garzón deseja ver investigadas não se deveram unicamente aos "exércitos de Franco", como ele diz (ou seja, à frente de setores nacionalistas, conservadores e monarquistas que se rebelaram contra a Segunda República espanhola, proclamada em 1931), mas também - e isso não convém lembrar -, às forças republicanas, integradas por liberais, socialistas e, principalmente, comunistas. Estes últimos, na luta contra os franquistas, cometeram igualmente inúmeras atrocidades, chegando ao ponto de fuzilar centenas de padres católicos e incendiar igrejas. Além disso, grande parte das vítimas do lado republicano caíram sob as balas não dos exércitos nacionalistas de Franco, mas dos agentes da NKVD (a polícia política soviética, antecessora do KGB) do ditador Josef Stálin, que foram despachados para a Espanha não para combater os fascistas e defender a democracia, mas para liquidar os adversários da URSS nas fileiras republicanas, como os trotskistas e os anarquistas. E cumpriram essa missão, vale dizer, com dedicação canina e métodos científicos, como um bala na nuca. Para quem quiser saber mais como ocorreu esse banho de sangue, um dos massacres auto-infligidos menos conhecidos do século XX, recomendo a leitura de Lutando na Espanha, de George Orwell, e de A Batalha pela Espanha, de Antony Beevor. Será que o juiz Garzón vai pedir que se investiguem essas mortes também?
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De fato, o senso de justiça do sr. Garzón parece ser bem seletivo. Implacável para com generais de pijama sul-americanos, a ponto de compará-los aos nazistas e de reivindicar, para si, jurisdição universal para caçá-los onde quer que estejam, Garzón costuma ser bem tolerante, para dizer o mínimo, quando se trata de outras ditaduras. A de Fidel Castro em Cuba, por exemplo. Certa vez, perguntado por que não se mostrava tão implacável e inquiridor com o tiranossauro do Caribe, ele saiu-se com a seguinte pérola de valentia: disse que não podia fazer nada contra chefes de Estado ainda no exercício de suas funções. Ou seja: era preciso esperar o ditador aposentar-se, ou morrer, para pensar em fazer alguma coisa. Pois bem. No começo deste ano, após 49 anos de ditadura ininterrupta, Fidel renunciou - pelo menos foi o que se disse na imprensa - aos cargos que ocupava no Estado cubano. Tecnicamente, portanto, o barbudo não é mais um chefe de Estado, e, segundo o argumento do juiz Garzón, pode ser processado por seus crimes. Até o momento em que escrevo estas linhas, porém, o excelentíssimo juiz ainda não tinha iniciado o processo do ditador cubano, responsável, entre outras coisas, por 17 mil fuzilamentos e mais 78 mil afogados tentando fugir da ilha-prisão de Cuba desde 1959. Como diria o Capitão Nascimento: um verdadeiro fanfarrão, esse juiz Garzón.
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Alguns dias atrás, Garzón esteve no Brasil, em plena polêmica da revisão, ou não, da Lei de Anistia. Na ocasião, em entrevista para a Carta Capital, Garzón endossou a tese de Tarso Genro e defendeu a punição para os torturadores da época do regime militar. Afirmou que tortura é crime imprescritível. Estranhamente - ou não -, não disse nada sobre o terrorismo das organizações armadas de esquerda que mataram várias pessoas inocentes no mesmo período. Será que o terrorismo deixou de ser, também, um crime imprescritível? Ou será que - o mais provável - os mortos, nesse caso, estavam do lado errado?
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"Ah mas então você não quer que se investiguem as mortes". Não, nada disso. Não estou dizendo que não se deve investigar, nem que o melhor é esquecer. Mais uma vez: Não! É justamente o contrário: quero que se investigue sim, o destino dos mortos e desaparecidos, e que a História - TODA a História, e não parte dela - seja lembrada e esclarecida. Quero, inclusive, que os torturadores paguem por seus crimes, e que, se for para revisar a Lei de Anistia de 1979, que assim seja. Mas quero que os que mataram, feriram e torturaram - sim, torturaram! ou vai dizer que seqüestro não é uma forma de tortura? - do "outro lado", ou seja, do lado que hoje pede "justiça" e a revisão da Lei, paguem também. É isso, aliás, o que me distingue do sr. Baltazar Garzón, assim como de seus amigos esquerdistas: eu quero que a História seja desvendada por inteiro; eles querem que seja pela metade - a metade que lhes convém, claro.
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A manipulação da História pela esquerda não é um fato novo. É uma tática sistematicamente empregada, há décadas, para fazer todos acreditarem que ela é sempre vítima, jamais o lado agressor. Fazem isso para incutir nos espiritos ingênuos ou mal-informados (ou seja: na maioria das pessoas) a idéia de que seus crimes são virtuosos e que qualquer um que os denuncie é um salafrário e um bandido, um "reacionário", até mesmo um "fascista". Para atingir esse objetivo, os esquerdistas não hesitam em esconder uma parte da verdade, ou em se basear nela para propagar mentiras, ou em recorrer à mentira pura e simples. Um exemplo histórico é a falsa acusação feita pela URSS no Tribunal de Nuremberg, em 1946, segundo a qual os nazistas teriam sido os responsáveis pelo massacre de milhares de oficiais militares poloneses na floresta de Katyn, em 1940. Sabendo que os nazistas estavam na berlinda, universalmente execrados como autores de crimes horrendos contra a humanidade, e que qualquer delito que lhes fosse imputado teria uma boa probabilidade de ser considerado, os comunistas tentaram atribuir aos nazistas mais esse crime. Com esse ardil, buscaram encobrir sua própria participação no episódio - foram os comunistas, e não os nazistas, os autores da chacina, revelou-se depois - e, de quebra, fazer todos esquecerem sua aliança com os próprios nazistas - quando ocorreu o massacre, Stálin e Hitler tinham acabado de dividir entre si a Polônia, após a assinatura do infame Pacto de "não-agressão" entre os dois ditadores, em agosto de 1939. Esse é apenas um exemplo, entre tantos, de como as esquerdas se habituaram a distorcer a História para atender a seus próprios interesses.
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Algum tempo atrás escrevi aqui que o clube mais numeroso que existe é o dos inimigos das ditaduras passadas e amigos das ditaduras presentes. Se essas são de esquerda, então, viram não amigos, mas militantes das mesmas. Este é exatamente o caso do juiz Baltazar Garzón.

segunda-feira, setembro 01, 2008

EU GOSTO DO BUSH


A única coisa que este blogueiro aprecia na imagem acima é o meio, não a mensagem


Sei que, depois deste texto, provavelmente vou precisar de proteção policial para ir comprar jornal na esquina. Ou, pelo menos, terei que olhar para os dois lados sempre que pôr os pés para fora de casa. Certamente, muita gente vai deixar de falar comigo, e vão até mudar de calçada se me virem. A quantidade de meus inimigos vai aumentar substancialmente, e muitos vão até se oferecer para me dar uma surra. Tudo bem. Já me conformei com isso. De certo modo, até me acostumei. É a vida, fazer o quê? Além do mais, alguém precisa ser o advogado do diabo.

Eu defendo o presidente George W. Bush. Mais: considero que o mundo lhe deve desculpas. Principalmente aqueles que gritaram, nos últimos sete anos, slogans anti-Bush, queimaram seu rosto em efígie e lhe brindaram com os piores epítetos. Estes, deveriam estar ajoelhados em cima do milho, implorando perdão e arrancando tiras da pele das costas com um chicote de couro de rabo de tatu.
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Antes de se indignarem e se reunirem para me calar a boca e me quebrar todos os ossos, enfiando óleo de rícino minha goela abaixo, deixem-me pelo menos dizer as minhas razões. Depois, se quiserem, podem baixar o sarrafo, e até me colocarem no paredón.
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Primeiro, vejamos o que dizem os inúmeros críticos e inimigos de Bush Júnior. De acordo com a visão religiosamente repetida todos os dias e propagandeada por grandes filósofos como Arnaldo Jabor e Michael Moore, os últimos sete anos foram uma verdadeira catástrofe, tanto nos EUA como no resto do mundo, promovida pela administração bushista. Graças a Bush e a sua desastrosa política externa, dizem, o mundo teria se tornado um lugar pior para viver. A começar pela "guerra ao terror", promovida por ele e pelos "neocons" e falcões do Pentágono, os EUA teriam destruído países por razões "ilusórias" e violado sistematicamente os direitos humanos em masmorras como Abu Ghraib e Guantánamo, criando, com isso, legiões de fanáticos terroristas muçulmanos. Nessa visão, Bush seria o representante da "América profunda", racista, militarista, consumista e xenófoba, que se isola perante o mundo e ergue muros contra os imigrantes ilegais. Bush, um religioso fervoroso, representante da direita cristã e careta, seria um misto do que foram Reagan e Thatcher nos anos 80, um inimigo figadal das causas mais progressistas da humanidade, como o aborto, as pesquisas com células-tronco e o casamento gay. Não por acaso, ele é atualmente a figura mais odiada do planeta - há mihares de comunidades no Orkut com o título "I hate Bush" ou "Fuck Bush", para citar apenas as mais comuns. A arrogância e a prepotência de Bush teria sido responsável até mesmo por tragédias como a do furacão Katrina, em Nova Orleães, em 2005. Se bobear, são capazes de culpar o Bush pelo aumento da poluição ambiental e até pelo aquecimento global, com as emissões de carbono na atmosfera pela indústria do petróleo. Uma verdadeira ameaça, o inimigo público número um da humanidade, o Bush.

Esses são os argumentos geralmente colocados pelos inimigos de Bush. Agora permitam-me apresentar os meus. Tentem rebatê-los, se puderem.

Quanto à guerra ao terrorismo islamita, deflagrada em 11 de setembro de 2001, é difícil enxergar as razões que levaram Bush a mandar bala em países como o Afeganistão e o Iraque como "ilusórias". No caso do primeiro, as vinculações da tirania Talibã com Bin Laden e a Al-Qaeda são notórias, e não há o que discutir. No caso do Iraque, aparentemente mais controverso, já disse aqui e repito: tratava-se de derrubar uma ditadura sanguinária e que há anos patrocinava o terrorismo (como comprovam vários grupos palestinos patrocinados por Bagdá desde os anos 70). Era uma ameaça, assim como o Talibã.
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"E as armas de destruição em massa, que Bush disse que existiam, e que não foram encontradas?". Respondo: foram utilizadas nos anos 80, pelo regime de Saddam, contra os curdos e iranianos, e nada garantia que não poderiam ser utilizadas novamente. O temor de sua existência foi empregado por Saddam para enganar a ONU e tentar dissuadir os EUA de o atacarem. A única maneira de saber se ele tinha ou não as tais armas era invadindo o país e derrubando-o. Saddam era uma ameaça real. Isso, para mim, justificou sua queda. Hoje, o Afeganistão e o Iraque estão em uma situação muito melhor do que há sete anos - e quem discordar disso que prove que a ditadura do Saddam era melhor.
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"E Abu Ghraib? E Guantánamo?". Aqui faço minhas as palavras de Christopher Hitchens - autor, aliás, que não tem nada de direita -: até as tropas norte-americanas entrarem em Bagdá, Abu Ghraib era um açougue humano, onde prisioneiros políticos eram torturados e chacinados a machadadas. Com os americanos, tornou-se um centro de torturas, que foi fechado após um escândalo internacional em que os soldados foram flagrados em fotos e filmes abusando dos prisioneiros. Não se pode negar que houve um progresso. Quanto a Guantánamo, é freqüentemente lembrado que se trata de uma prisão ilegal, onde ocorrem inclusive maus-tratos contra prisioneiros. A esse respeito, lembro que Guantánamo está localizada em território de Cuba, país onde existem umas duzentos Guantánamos, em condições certamente muito piores do que a base americana - e ninguém diz nada. É que o comandante de Cuba não se chama George W. Bush...
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Alega-se que a política linha-dura de Bush contra o terrorismo islamita tem ajudado a multiplicar os terroristas - a cada ação militar norte-americana, como as invasões do Afeganistão e do Iraque, surgiriam centenas de novos candidatos a mártires, prontos a se explodirem - e aos infiéis ocidentais - em nome de Alá. É outra balela, que serve apenas para tentar justificar o imobilismo, principal combustível dos atentados. O terrorismo islamita não é o resultado de nenhuma ação norte-americana - basta ver o Afeganistão, celeiro de terroristas da Al-Qaeda, e onde os americanos não tinham colocado os pés antes de 2001 -, mas do ódio doentio de fanáticos dementes ao Ocidente e às idéias de democracia e direitos humanos. A maneira mais adequada de combater essa ameaça - aliás, a única maneira possível - não é cometer suicídio em nome da expiação de supostas culpas passadas, mas ajudar a estabelecer a democracia onde ela nunca existiu. Até agora, o principai argumento contra essa estratégia é que a democracia seria um valor "ocidental", que não poderia ser "exportado". Curiosamente, os mesmos que defendem esse ponto de vista são os que criticam o "isolacionismo" de Bush e o acusam de reacionário e contrário às liberdades individuais, ao mesmo tempo em que se colocam ao lado dos extremistas islâmicos. Já vi, como disse, muitos sites "I hate Bush", mas quase nenhum "I hate Saddam" ou "I hate Fidel Castro"...

Acusa-se Bush, ainda, de negligência no caso dos ataques de 11/09. De todas as acusações contra Bush, esta me parece a mais consistente, a única com alguma base real. A CIA e os demais órgãos de inteligência norte-americanos certamente erraram, e erraram feio, ao desprezar o perigo do terrorismo islamista antes dos ataques de Nova York e Washington. Mas, nesse caso também, se é para atacar o Bush, que não ataquem a ele somente. A negligência em relação ao terrorismo, vamos lembrar, caracterizou os oito anos anteriores de Clinton, mais às voltas com suas aventuras com charutos e estagiárias do que com uma estratégia de defesa nacional. Durante o reinado Clinton, a resposta dos EUA a atentados como os das embaixadas americanas no Quênia e Tanzânia e ao USS Cole era disparar alguns mísseis no deserto. Mesmo isso, porém, causou ondas de protesto por parte dos militantes esquerdistas e antiamericanos de plantão - os mesmos, aliás, que condenam a ação enérgica de Bush contra o terrorismo islamita, e ainda por cima o criticam por negligenciar a ameaça terrorista... Vai entender.

É óbvio que, como presidente, Bush tem muitos defeitos. No entanto, não há como negar que ele é o melhor comandante militar que os americanos já tiveram em muito tempo. Para constatar isso, basta prestar atenção para um detalhe: há sete anos, não há um atentado terrorista em território dos EUA. Também está claro que a maior parte das críticas que lhe são dirigidas é feita por gente que está cantando e andando para a paz e os direitos humanos.

Tudo o que está aí em cima prova, mais uma vez, aquilo que venho dizendo aqui neste blog e em conversas com amigos e conhecidos desde 2003: que os ataques a Bush, Rice e cia., mesmo os que parecem justificados, não passam de um pretexto para que se destile o mais vulgar antiamericanismo. Isso é verificado no seguinte fato: falar mal do Bush virou uma espécie de senha para que os esquerdistas de sempre - gente que adora criticar os EUA mas baba por um Fidel Castro - demonstrem todo seu ódio aos EUA e, por antonomásia, à globalização e ao capitalismo. Para isso, não hesitam em repetir velhos chavões da época da Guerra Fria, quando tinham na finada URSS uma "alternativa" ao "imperialismo ianque", atacando, por exemplo, a construção de um muro na fronteira com o México para conter o fluxo de imigrantes ilegais como um exemplo da "xenofobia" e do "isolacionismo" da era Bush. Os mais afoitos fazem mesmo comparações com o Muro de Berlim. Não parecem muito preocupados com o fato de que o muro, assim como barreira semelhante erguida por Israel na Faixa de Gaza, tem por finalidade impedir a ENTRADA de pessoas no país, ao contrário do Muro de Berlim, que se destinava a impedir a SAÍDA ds alemães orientais para o lado ocidental. Ou seja: critica-se o muro por ser um obstáculo não à liberdade de quem porventura queira sair do país, mas à entrada de millhares de pessoas que desejam desfrutar do American dream... Para eles, inimigos dos EUA, Bush, com seu jeitão simplório e suas políticas controversas, é o bode expiatório perfeito. A economia americana vai mal? As bolsas de valores despencaram? Estourou uma guerra no Caúcaso entre a Rússia e a Geórgia? Basta dizer que a culpa é do "Jorjibúxi", e pronto!

A Bushofobia - na verdade, americanofobia - de nossa intelligentsia esquerdóide só não é maior do que sua capacidade de inventar novos ídolos e novos mitos para compensar os que a História tratou de despachar para o lixo. O mito do momento é Barack Obama, que já foi eleito pelas elites chiques e bem-pensantes do mundo inteiro como o novo presidente dos EUA. Obama, a esperança das esquerdas, é um verdadeiro rockstar. O sujeito não tem eleitores: tem devotos. Tudo que ele diz, mesmo antes de dizer, já é "histórico". A que ele realmente veio, ninguém sabe, nem parece se importar muito em saber. O importante é que ele tem carisma, e muita lábia. Além disso, ele promete "mudança". Ninguém sabe exatamente que mudança seria essa, mas isso é o que menos importa. Afinal, atrás dele está uma multidão de artistas, intelectuais de esquerda, formadores de opinião, a beautiful people, gente linda e maravilhosa, enfim. Pois é... Já vimos esse filme. Elegemos e reelegemos Lula presidente. Com que direito falamos mal de Bush?

E então, ainda querem me dar uma surra?