segunda-feira, junho 29, 2009

HONDURAS: A ESCOLINHA DO PROFESSOR CHÁVEZ


Hugo Chávez e Manuel Zelaya, ajustando os ponteiros da "revolução bolivariana": golpismo travestido de "resistência"


A notícia assustou muita gente. Na pequena Honduras, um grupo de militares inconformados resolve se mobilizar e depõe um presidente constitucionalmente eleito. No dia seguinte, o presidente deposto parte para o exílio e é decretado toque de recolher. Imediatamente, uma sensação desconfortável de déjà vu toma conta de quase todos, à medida que as palavras "golpe militar" e "golpe de estado" se apossam das manchetes, remetendo ao que seria mais uma típica quartelada latino-americana. Parece que já vimos esse filme antes, não?
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Sim e não. Convém olhar um pouco mais de perto a situação naquele país da América Central antes de qualquer juízo precipitado.
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Quem leu os jornais ou assistiu ao noticiário ficou com a impressão de que o governo deposto de Honduras era formado por democratas e amantes da liberdade, do tipo que só deseja o bem para seu povo, e que os militares que o depuseram são gorilas do tipo Pinochet ou Médici. Ambas as impressões estão erradas. Totalmente erradas.
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Não, o que houve em Honduras não tem nada a ver com o que ocorreu no Chile em 1973, ou no Brasil em 1964. Em primeiro lugar, o golpe - vamos chamá-lo de golpe - ocorreu sem que nenhum tiro, nem mesmo um traque, fosse disparado (convenhamos, na longa história de quarteladas e golpes cruentos na América Latina, isso não é pouca coisa). O presidente deposto, Manuel Zelaya, não foi preso, nem morto, mas despachado para a Costa Rica. Não se lhe tocou em um fio de cabelo, assim como não se tocou, até agora - e faço questão de ressaltar o "até agora" -, em um fio de cabelo de seus simpatizantes, que puderam até fazer uma manifestação contra o terrível golpe no dia seguinte sem serem incomodados pela polícia. Até onde se sabe, não há prisões em massa, nem fuzilamentos a granel.
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Em segundo lugar - e o mais importante -, quem deu o golpe (mais uma vez, chamemo-lo assim), não foram os militares apenas, mas - e atentem para esse fato! - o Legislativo e o Judiciário. Isso mesmo: foi o próprio Congresso hondurenho, juntamente com a Suprema Corte, que se insurgiu contra o governo, declarando-o ilegal. A demissão do comandante do Exército, a que se seguiu a renúncia, em solidariedade a este, dos comandantes da Marinha e da Força Aérea, foi a gota d'água. Os militares resolveram agir por solicitação legal de dois Poderes da República, que haviam sido atropelados pelo Executivo. Até o momento, portanto, os "golpistas" seguiram estritamente a ordem constitucional.
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Por outro lado, sim, o ocorrido em Honduras tem relação com golpes passados. Melhor dizendo, o presidente deposto, Manuel Zelaya, assemelha-se, em muitos aspectos, a um Salvador Allende ou a um João Goulart. Isso porque tanto ele quanto aqueles - ao contrário do que foi repetido ad nauseam por seus hagiógrafos - não morriam de amores pela democracia. Pelo contrário: Allende e Goulart, e agora Zelaya, tinham inclinações nitidamente golpistas (sem aspas) e autoritárias. Allende, pouco antes de ser derrubado, fora colocado fora da lei pelo Congresso chileno, com o qual vinha há tempos se indispondo devido a sua aliança com radicais marxistas e seu projeto de contruir o socialismo no país andino. Goulart, e isso também quase ninguém lembra, caiu porque jogou a hierarquia e a disciplina militares às favas e se apoiou em sargentos e marinheiros para instalar uma república sindicalista no País. Zelaya, por sua vez, tentou passar por cima dos outros Poderes, ao convocar um referendo ilegal e inconstitucional, visando a se perpetuar no poder, seguindo os passos de Hugo Chávez. Como aprendiz de tiranete, preparava assim um golpe civil, usando os próprios mecanismos da democracia para destruí-la. Zelaya era - é - um golpista bolivariano, que estava pressionando o Legislativo e o Judiciário de Honduras para convocar um plebiscito inconstitucional e modificar a Constituição, no pior estilo chavista. Havia passado por cima dos demais Poderes, com o fito de reproduzir, em terras hondurenhas, a experiência bolivariana da Venezuela. Não sei quanto a vocês, mas o nome disso é golpismo.
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Há outras semelhanças. Nos casos brasileiro e chileno, o que houve foi a disputa entre dois golpismos, um de direita e outro de esquerda. Venceu o de direita. Os golpistas de esquerda, derrotados, passaram a se dizer democratas. E muitos cairam nessa conversa mole, e a repetem ainda hoje. Do mesmo modo, os apoiadores bolivarianos de Zelaya - incluindo Lula - falam em - "atentado contra a democracia" e em "resistência". Quando Zelaya se preparava para rasgar a Constituição, ninguém falava nisso. Agora que ele foi deposto, seus aliados bolivarianos apelam para esse tipo de clichê. Não por acaso, Zelaya foi direto de Honduras para uma reunião da Alba, a tal Aliança Bolivariana das Américas, criada por Hugo Chávez e pelo Mico Mandante Fidel Castro para se contrapor ao "império". Nada poderia ser mais claro.
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"Ah mas o mundo todo, a ONU, a OEA, até os EUA, condenaram o golpe" etc. etc. Sei, e isso só reforça minha convicção de que Zelaya deveria ser afastado. A capacidade dessa gente de enganar a todos, ou de todos se deixarem enganar por sua discurseira populista-autoritária, é infinita. Há apenas um mês, a OEA abriu as portas para a reentrada da tirania cubana na organização. Escrevi, aliás, um post sobre o assunto. Natural, portanto, que agora exija o retorno de Zelaya ao poder, sem qualquer tipo de garantia de que não irá, caso seja reempossado, tentar violar novamente a Constituição (a propósito: alguém está se fazendo essa pergunta?). Quanto a Barack Obama, também já deixei claro minha opinião sobre ele - basta dizer que ele não é bem assim um, digamos, opositor fervoroso de ditadores (vejam o caso de Ahmadinejad no Irã). Quanto à ONU, sua Assembléia-Geral é presidida por um ex-ministro do governo sandinista da Nicarágua, Miguel D'Escoto. Precisa dizer mais?
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Nem é preciso ir muito longe para verificar o naipe demagógico dos que agora se enchem de indignação pelo afastamento de Zelaya. O governo Lula - o mesmo cujo titular reconheceu, antes mesmo dos aiatolás iranianos, a vitória extremamente duvidosa de Ahmadinejad no Irã, e que comparou a sangrenta repressão da polícia iraniana aos opositores a uma partida de futebol - se recusa a reconhecer o novo governo hondurenho. O mesmo governo que, vejam só, apóia descaradamente tiranias como as de Cuba e da Venezuela, e que aceita até mesmo ser humilhado por Bolívia e Equador, agora condena o "golpismo" em Honduras. Lula já disse que na Venezuela chavista há "democracia até demais". É bem capaz que diga o mesmo das intenções autoritárias de Zelaya. Também, pudera: ele é da turma, se é que vocês me entendem.
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Sou contra todos os golpes de estado, militares ou civis. E Manuel Zelaya, ao tentar rasgar a Constituição, quis dar um golpe civil, a exemplo de seu mentor Hugo Chávez. Isso está claríssimo. Fechar os olhos para esse fato é prova da mais tacanha estupidez, ou da mais desavergonhada vigarice. O golpismo em Honduras não veio dos militares, nem do Congresso, nem da Suprema Corte. Veio de Zelaya. Agora, em plena campanha para reassumir o poder, ele posa de vestal da democracia.
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Por trás da crise institucional em Honduras, não é difícil perceber, está Hugo Chávez e seu sonho de exportar a "revolução bolivariana". Com o apoio ou o silêncio cúmplice de Obama, Lula e idiotas úteis de todos os quilates, ele está conseguindo. O bufão de Caracas está fazendo escola, já tendo sob sua influência oito países latino-americanos. Sob Zelaya, Honduras seria mais um deles. Por evitarem que isso acontecesse, os parlamentares, juízes e militares hondurenhos estão sendo chamados de golpistas, e Zelaya, de democrata. Nunca a frase de Lênin foi seguida tão ao pé da letra: "Acuse-os do que você faz; xingue-os do que você é". Há poucas coisas certas na vida, mas esta é uma delas: sempre haverá idiotas que engolirão a isca.

quinta-feira, junho 25, 2009

USP: A HORA DOS INTOLERANTES


Guardas Vermelhos humilham um "inimigo do pensamento do camarada Mao Tsé-tung" durante a "Revolução Cultural" na China, nos anos 60: qualquer semelhança com os "grevistas" da USP que intimidam professores e estudantes NÃO é mera coincidência


Ainda não escrevi nada a respeito da atual "greve" da USP, na qual uma minoria destrambelhada de radicais e profissionais da baderna tenta, há semanas - com o apoio de parte da imprensa idiotizada ou avermelhada -, em nome da "universidade pública, gratuita e de qualidade", impedir no braço o acesso da maioria dos estudantes à... educação pública, gratuita e de qualidade. Mas venho acompanhando o assunto pelo jornais e pela internet. O tema me interessa de perto, pois, embora tenha deixado há anos de freqüentar os bancos escolares, tive uma experiência breve, porém marcante, com esse tipo de gente e suas "reivindicações". Acho que já falei aqui dessa minha experiência. Mas vou retomar o assunto.

Aconteceu em 2001. Eu era professor substituto no curso de História na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, onde me graduei no mesmo curso. Foi quando estourou mais uma "greve", nem me lembro mais por quê (somente durante o período em que fui estudante, devo ter enfrentado umas três greves semelhantes, no mínimo). As, digamos, "reivindicações" eram as de sempre: melhores salários, vagas exortações contra a "privatização" das universidades federais etc. Por trás do, digamos, "movimento", estavam os nomes e as siglas de sempre: o sindicato dos funcionários e dos professores, ligado à CUT, e alguns "estudantes" que nunca apareciam para estudar, geralmente militantes de alguma agremiação de esquerda, como o PSTU ou o PCdoB. Rapidamente, pelos métodos que depois eu mesmo pude constatar em sala de aula, o movimento tomou conta da universidade, e as aulas no setor em que eu lecionava estavam paralisadas. Foi então que eu, em minha ingenuidade, cometi um erro.

Meu erro foi ter feito uma pequena reunião com meus alunos, em duas turmas para as quais eu dava aula - de manhã e à noite. Na ocasião, tentei explicar, sem tentar influenciar ninguém, que a paralisação das aulas cobraria um alto preço no futuro, que o ano letivo seria fatalmente prejudicado e que seria necessário um esforço hercúleo para repor o tempo perdido. Enfim, dei minha opinião, tentando mostrar, da forma mais fria e desapaixonada possível, que os maiores prejudicados com a "greve" não seriam nem o governo FHC (era a época de FHC), nem o "neoliberalismo", nem o FMI etc., mas os próprios estudantes, em nome dos quais supostamente estaria sendo feito o "movimento". Mesmo assim, deixei claro que acataria a decisão da maioria. Concordei, então - E ESSE FOI MEU MAIOR ERRO -, em fazer uma votação democrática com os alunos. Uma das turmas, a da manhã, votou a favor da paralisação e da adesão à "greve", decisão que acatei imediatamente e sem discutir. Outra turma, a da noite, votou pela manutenção das aulas. Decisão esta que também acatei, e esperei ser respeitada.

Foi então que meus problemas começaram. Na noite seguinte, enquanto eu me dirigia para dar mais uma aula com a turma que concordara, democraticamente, em prosseguir com os estudos, fui surpreendido por uma pequena turba, umas 20 pessoas mais ou menos, concentradas em frente à minha sala de aula. Compreendi logo que era um "piquete", formado por pessoas que, em sua maioria, eu nunca tinha visto antes na vida (soube depois que o "líder" deles era um funcionário da universidade, membro do sindicato), e que estavam lá para, de alguma maneira, me intimidar. Não me fiz de rogado: entrei na sala, atravessando um corredor polonês à porta, depus meu material de ensino sobre a mesa e comecei a aula. Na verdade, tentei começar, pois, nesse exato instante, o "piquete" entrou no local e pediu a palavra. Democraticamente (MAIS UMA VEZ: FOI MEU GRANDE ERRO!), permiti que eles dissessem o que queriam. Começou então uma arenga histérica e desarticulada de um dos piqueteiros, em favor da "luta dos explorados" etc. e tal. Falaram, inclusive, em "democracia universitária". Ouvi tudo atentamente e, após uns vinte minutos, pedi educadamente que se retirassem para dar prosseguimento à minha aula, conforme tinha sido acordado pelos próprios estudantes em votação democrática. Foi aí que percebi a enormidade de meu erro.

O "líder" dos piqueteiros, o tal sindicalista, sem pedir licença nem me deixando falar, começou a vociferar, em altos brados, contra "esse professor fura-greve", berrando a plenos pulmões que "jamais tinha visto um caso de um professor assim" (que permitia a seus alunos escolherem participar ou não de uma "greve", deve ter querido dizer). Elevando a voz, com a veia do pescoço quase saltando, ele espumava de raiva, dando-me a nítida sensação de que estava prestes a pular sobre minha garganta e beber meu sangue como se bebe refrigerante. Nisso, ele era seguido por outros integrantes do "piquete" - jamais vou esquecer da cara de ódio de uma das piqueteiras, militante do PSTU, única aluna minha, aliás, que fazia parte do grupo grevista, e cujos olhos pareciam soltar faíscas contra mim. Fiquei uns minutos tentando argumentar com aquele bando de fanáticos - um deles, ao que parecia, estudante, tentou me dar uma lição de História, balbuciando alguma coisa sobre o levante revolucionário dos marinheiros alemães em 1919... (!) Nesse trabalho, fiquei sozinho, pois meus alunos, petrificados, certamente com medo de dizerem o que pensavam diante de tamanha ferocidade, assistiam a tudo em silêncio. Finalmente, consegui que se retirassem da sala e tentei retomar minha aula. Não durou dois segundos e as luzes da sala (lembrem que era de noite) se apagaram, deixando a todos nós imersos no breu total. Eu mesmo, ou um dos alunos (esse detalhe não lembro bem), religuei a energia, mas em vão: sempre que tentávamos reacender a luz, esta era cortada. E assim foi, umas três ou quatro vezes, até que desistimos da aula, por absoluta falta de condições materiais...

Foi assim que os "grevistas" demonstraram todo seu amor à democracia e à educação: desrespeitando a decisão democrática de uma turma de alunos e cortando a energia de uma sala de aula para evitar que um professor lecionasse. Para eles, deixar uma sala às escuras era a sua forma de "protestar" pela "melhoria da educação"...

Naquela noite, aprendi uma dura lição: nunca tente argumentar racionalmente com gente capaz de fazer algo assim. É inútil. Pior: é até perigoso. Por muito pouco, não acabei como uma daquelas vítimas dos Guardas Vermelhos durante a Revolução Cultural chinesa, nos anos 60. Jamais se deve ser tolerante com os intolerantes. Para eles, a Lei!

Com essa experiência em mente, foi impossível para mim evitar a sensação de déjà vu ao ler as notícias da "greve" na USP: a mesma intolerância, o mesmo radicalismo idiota e o mesmo autoritarismo travestido de "luta pela educação", é o que se verifica naquela universidade. Há semanas, uma minoria intolerante e autoritária vem intimidando, pela violência, a maioria silenciosa dos estudantes. Estes, por temor de parecerem "de direita" - o que revela uma clara patologia esquerdóide vigente nas universidades -, preferem se calar, dando a falsa impressão de que não são a maioria.

O grupo de baderneiros que vem infernizando a vida dos estudantes e professores sérios na USP é liderado por um tal Claudionor Brandão, funcionário antes encarregado da manutenção dos aparelhos de ar-condicionado da universidade, que se diz "marxista-revolucionário" e é militante de uma tal LER-QI (Liga Estratégica Revolucionária - Quarta Internacional), grupelho trotskista que se encontra à esquerda do PSTU e do PCO. O sindicato dos funcionários da USP é controlado pela tal LER-QI e pela LBI (Liga Bolchevique Internacionalista), que professam a necessidade da revolução socialista, a mesma que deixou 100 milhões de mortos no século XX. Seus militantes são principalmente funcionários públicos como Brandão e "estudantes", e por alguma razão acreditam que os campi das universidades são o cenário ideal para tentar derrubar o capitalismo e instaurar a ditadura do proletariado... Uma das exigências dos "grevistas" da USP é a readmissão de Brandão, demitido no ano passado por justa causa, e a renúncia da reitora, que teve a ousadia de tentar aplicar a Lei na universidade, punindo baderneiros que depredem o patrimônio público. Outras exigências são meros pretextos, como o slogan em defesa da "universidade pública e gratuita" ou a exigência insólita de pôr fim aos cursos à distância... Numa clara demonstração de inversão total de valores, os grevistas marcaram um tento junto a um setor facilmente manipulável da opinião pública, quando, para cumprir a Lei, a reitora solicitou e a Justiça concedeu o envio de uma tropa da PM para o campus. A PM lá esteve para fazer cumprir a Lei e garantir a liberdade de os estudantes e professores que discordam da "greve" se movimentarem livremente. Era, portanto, a DEMOCRACIA FARDADA, contra a qual os "grevistas" investiram, com paus e pedras, em moldes verdadeiramente fascistas. Mas não foi assim que entendeu parte do jornalismo, para quem PM em universidades remete automaticamente aos piores anos do regime militar. Resultado: os "grevistas" passaram a ter uma nova bandeira: contra a "repressão" da PM na USP... A LER-QI e a LBI, esses campeões da liberdade e da democracia! Pois é...

O uso da violência - física e psicológica - por parte dos baderneiros da USP para atingir objetivos que não têm nada a ver com a melhoria da educação não é nenhuma novidade. Como tampouco é novidade a forma absolutamente idiota e condescendente com que parte da imprensa aceita e até justifica a baderna, preferindo centrar fogo nas "autoridades" - a reitora ou a PM. Os "grevistas" da USP, assim como os piqueteiros que tentaram impedir minha aula oito anos atrás, não querem melhorar a educação nas universidades públicas do País coisa nenhuma. As palavras de ordem que utilizam, como a "defesa da educação pública, gratuita e de qualidade", não passam de meros pretextos para darem vazão a seus delírios de revolução ou para a velha política partidária vagabunda de sempre. Para tanto, não hesitam em empregar meios autoritários, tolhendo a liberdade de ir e vir dos outros estudantes e professores que não aderiram à "greve" - a maioria. São fascistas travestidos de grevistas, inimigos da democracia e da educação. A reitora fez muito bem em chamar a PM para impedir que essa canalha impeça os outros de estudar! Democracia neles!

O trabalho destrutivo desses esquerdopatas é facilitado por um clima ideológico propício a suas sandices. Não por acaso, seus principais recrutas entre os estudantes vêm das faculdades de ciências humanas e de comunicação, verdadeiras madraçais do esquerdismo mais bocó, onde o que se ensina há décadas, em vez de História ou Filosofia, é um misto de marxismo vulgar e anticapitalismo ginasiano, sem nenhum contato com a realidade. Há alguns dias, um esquerdista nonagenário, Antonio Candido, deu uma "aula" aos "estudantes grevistas", ao lado da petista Marilena Chauí, em que os exortou a continuarem e a radicalizarem a "luta". "Sejam justos e injustos", afirmou o venerando crítico literário, para o delírio da platéia. Quando um senhor de 91 anos incita uma turba de jovens a deixarem de lado a noção de justo e injusto, é porque algo vai mal, muito mal.

É fácil entender por que os extremistas de esquerda escolheram as universidades públicas para suas demonstrações de intolerância e proselitismo ideológico: sendo funcionários públicos ou "estudantes", eles sabem que dificilmente seus atos terão consequências, pois não correm o risco, como ocorre na iniciativa privada, de irem parar no olho da rua. Gente como Claudionor Brandão sabe que sempre terá o sindicato a lhe dar sustentação, enquanto os remelentozinhos mimados que participam do "movimento" poderão saciar, por alguns instantes, sua fantasia infanto-juvenil de participar da "luta dos explorados" e - suprema glória! - atirar algumas pedras na polícia, que será, obviamente, acusada dos piores crimes da época da ditadura se revidar e cumprir a Lei. Nisso tudo, ainda conquistarão alguns momentos de fama na "mídia". Para eles, é um jogo em que somente têm a ganhar. Os estudantes sérios, que não querem nada com esses malucos e têm mais o que fazer na vida - a imensa maioria dos estudantes, em qualquer universidade -, só têm o que perder com esse tipo de "movimento".

Assim como ocorreu naquela "greve" de 2001, da qual ninguém mais se lembra, o resultado prático do movimento na USP é bem conhecido. Encerrada a paralisação, a rotina será a seguinte: depois das férias forçadas, os professores fingirão repor as aulas, os funcionários voltarão a seus sindicatos e à politicalha de sempre, os "estudantes" da LER-QI e da LBI continuarão a sonhar em serem os novos Lênins e os novos Trotskys (e Stálins) e os estudantes que querem estudar, os mais prejudicados, tentarão correr atrás do tempo perdido. Enquanto isso, os responsáveis pela paralisação, que não têm nada a ver com o ensino, independentemente do resultado, irão cantar vitória, alegando terem alcançado uma grande "conquista" (e se não tiverem alcançado nada, dirão que ao menos a "categoria mostrou união e saiu fortalecida", ou outra coisa qualquer do gênero). E, assim, estarão preparando o terreno para mais uma "greve", mais uma "luta em favor da educação e dos excluídos"... Quantas vezes veremos esse filme?

quarta-feira, junho 24, 2009

E LULA, O AIATOLÁ DE GARANHUNS, DESMENTE AMORIM...


Um torcedor do Vasco depois de um entrevero com a torcida do Flamengo no Irã, segundo Lula: culpa das mortes é da oposição, diz o Apedeuta
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(ler primeiro post anterior)
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Notícia de ontem, 23/06, na Folha Online. Comento em seguida:
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou nesta terça-feira as mortes provocadas no Irã pela repressão aos manifestantes que protestam contra uma suposta fraude na eleição que reelegeu o presidente Mahmoud Ahmadinejad no último dia 12. O presidente brasileiro, que anteriormente havia dito que não acreditava que o resultado da eleição iraniana tivesse sido adulterado, afirmou que o povo iraniano não pode se transformar em vítima da irresponsabilidade de agentes políticos.“Há uma oposição que não se conforma [com o resultado das eleições]. O resultado desse conflito são inocentes morrendo, o que é lamentável e inaceitável por parte de qualquer democrata do mundo”, afirmou o governante em declarações a jornalistas no Rio de Janeiro.“Agora, ou a Justiça iraniana [intervém], ou o governo e a oposição se sentam e param o conflito, ou há novas eleições, ou se deixa como está, mas o povo não pode continuar sendo vítima da irresponsabilidade dos agentes políticos do Irã”, acrescentou.

Até agora, os protestos e confrontos no Irã deixaram pelo menos 20 mortos, segundo os números oficiais.

Lula recebeu críticas de setores da oposição no Brasil devido à rapidez com que, na semana passada, saiu em defesa da vitória eleitoral de Ahmadinejad e atribuiu as manifestações contra os resultados a “protestos de quem perdeu”, fazendo uma comparação com torcidas de futebol, assim como fizera o presidente iraniano.

Diante das críticas, o governo brasileiro tentou reinterpretar as declarações do presidente, afirmando que o país não tem uma posição definida sobre a eleição iraniana.

Nesta terça-feira, Lula reiterou as declarações que tinha concedido na semana passada.“Nas eleições brasileiras, as suspeitas de fraude geralmente ocorrem quando a diferença de votos entre os candidatos é de 1% ou 2%, e não quando há uma diferença tão expressiva”, afirmou.“Existem coisas quase inexplicáveis no Irã. Há uma eleição na qual um cidadão obteve 62% dos votos. É muito difícil que alguém com 62% dos votos…”, acrescentou o presidente, ao dar a entender que, em sua opinião, a possibilidade de fraude é pequena.

O argumento é semelhante ao utilizado pelo líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, que disse em sermão na última sexta-feira que as eleições haviam sido justas e questionou: “Como alguém pode fraudar 11 milhões de votos?”.

Posteriormente, o Conselho dos Guardiães — misto de Senado e tribunal superior, responsável por ratificar a eleição — reconheceu que houve mais votos que eleitores em 50 cidades. Apesar de admitir erro em cerca de três milhões de votos, a instituição endossou a vitória do presidente, e descartou anular a eleição. (...) (Grifos meus)

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Comento
É preciso reconhecer: Lula e seus devotos conseguem se superar em suas declarações. É preciso tirar o chapéu para essa gente. Mal eu havia colocado o ponto final em meu último post, e o Apedeuta surpreende a todos novamente.

Dessa vez, o mais surpreendido foi, certamente, o chanceler Celso Amorim, que dois dias atrás foi ao programa Roda Viva, da TV Cultura, para tentar arrumar de alguma maneira as afirmações do nosso Aiatolá, tentando convencer a todos que ele não tomou posição na encrenca iraniana. "Ele não tomou posição etc. e tal", disse Amorim perante os jornalistas, sendo capaz de jurar de pés juntos que aquilo era verdade. Dediquei meu último post a mostrar que isso não é verdade, que Lula, estava, sim, colocando-se a favor de um lado - o lado do mal, claro. Pois agora o Apedeuta em pessoa vem me dar razão, ao vir a público novamente para desmentir Amorim e REAFIRMAR tudo o que disse antes, não deixando qualquer dúvida de que está, sim, TOMANDO POSIÇÃO a favor de Ahmadinejad. Nem Obama, com toda sua ambiguidade - que muitos têm por sofisticação multicultural -, e que prefere matar moscas perante as câmeras a enfrentar facínoras de duas pernas, deu seu aval à fraude. Nem mesmo o Conselho dos Guardiães foi tão enfático e assertivo em seu apoio ao maluco de Teerã.

Mais: ao justificar a marmelada, Lula aproveitou para colocar a culpa pelas mortes de manifestantes na.... OPOSIÇÃO IRANIANA! (os "agentes políticos do Irã"). Isso mesmo: os cerca de 20 mortos até agora após terem sido baleados pelos meganhas da ditadura dos aiatolás só morreram devido à irresponsabilidade da oposição, que teve o desplante - vejam, só - de sair às ruas para protestar contra a fraude nas eleições. Se morre gente, diz Lula, se pessoas são assassinadas nos protestos pelas balas da polícia ou de milicianos, é por causa de uma choradeira de perdedores, como num jogo de futebol... Nada a ver com um regime que enforca dissidentes e que espanca até mulheres que mostrem os cabelos nas ruas, segundo nosso Guia Genial e filósofo de Garanhuns... E ainda repetiu a bobagem de que 62% de votos significam que não houve fraude - como se os mais de 90% que Saddam Hussein obtinha a cada "eleição" no Iraque fossem um selo de honestidade e democracia do regime.

Como será que Amorim, o bom de bico, o nosso Henry Kissinger, se sairá dessa vez? Dirá que, mais uma vez, o "resultado estava adequado"? Ou que Lula "deu apenas uma análise com os dados que dispunha (sic)"? Tentará, novamente, nos convencer que o que Lula diz não é bem assim, vejam bem, nada disso, muito pelo contrário? Se Lula aparecer vestido com uma camiseta estampando o rosto de Ahmadinejad e com a frase "Morte ao Grande Satã imperialista" (os EUA), será que ele ainda insistirá em tentar dourar a pílula e em tapar o sol com a peneira?

Numa coisa, convenhamos, Amorim está certo: não cabe ao Brasil tomar posição na questão do Irã. Pena que, ao que parece, ele não avisou Lula sobre isso. Pois o Apedeuta não só TOMOU POSIÇÃO EM FAVOR DE AHMADINEJAD, como CALUNIOU A OPOSIÇÃO IRANIANA, responsabilizando-a pelas mortes de manifestantes causadas pela polícia do regime. O mesmo vale para outros países, como Cuba e o Sudão, sobre os quais o governo Lula, com seu apoio explícito ou seu silêncio, toma posição todos os dias - a favor do carrasco contra a vítima.

Nunca na história do universo se viu coisa semelhante: um presidente justifica a barbárie em outro país, seu chanceler tenta pôr panos quentes, e no dia seguinte o mesmo presidente desmente o mesmo chanceler reafirmando as mesmas cretinices. O que dizer disso? Nada a dizer, apenas a lamentar.

terça-feira, junho 23, 2009

A OMISSÃO COMO ESTRATÉGIA DIPLOMÁTICA


Talvez Lula saiba a resposta para essa pergunta...
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A notícia é de ontem, dia 22. Está no Estadão Online. Seguem trechos em azul. Eu vou em preto. Os grifos são meus, como sempre:

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, evitou nesta segunda-feira, 22, opinar sobre a crise política iraniana. Indagado sobre o impasse por jornalistas no programa Roda Viva, da TV Cultura, o chanceler afirmou que “não cabe ao Brasil dizer o que o Irã tem que fazer”. “O país tem o sistema dele. Bom ou mau, isso cabe ao povo iraniano julgar (…) não cabe ao Brasil tomar uma posição.”

Quando alguém tenta sair pela tangente, evitando comentar um assunto espinhoso, diz-se que está pisando em ovos. Amorim, ao falar sobre o Irã, pisa em cadáveres. Ao recusar-se a opinar sobre o assassinato e espancamento de opositores do regime teocrático xiita, ele apela para o clichê mais batido dentre todos os que (des)norteiam a atual política externa brasileira: a "não-intervenção". "Não cabe ao Brasil dizer o que devem fazer" significa, na verdade, o seguinte: "Não damos a mínima para a democracia e os direitos humanos no Irã, assim como estamos nos lixando para os mortos e feridos", ou, em lnguagem mais popular: "Deixa pra lá: isso não é problema da humanidade...". A mesma atitude omissa e covarde é repetida em casos como o de Cuba e do Sudão, entre outros países dominados por ditaduras - no caso sudanês, o governo brasileiro sistematicamente tem-se negado a "julgar" a morte de cerca de 300 mil pessoas desde 2003 (talvez Amorim acredite que cabe ao povo de Darfur, e somente a ele, tomar uma posição; ou seja: cabe somente aos massacrados julgar seus carrascos...).

A frase de Amorim é um primor de cinismo, embalado no relativismo mais tosco e travestido de "respeito às diferenças". Alguns dias atrás, o chanceler do B Marco Aurélio "Top, Top" Garcia tentou justificar a omissão do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra com um argumento semelhante: segundo ele, não cabe ao Brasil sair por aí distribuindo "certificados de bom ou mau comportamento" para este ou aquele país. Acontece que, desde que Lula assumiu o poder, e mesmo antes, a política externa brasileira não tem feito outra coisa senão isso. Lembremos da ofensiva de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza, alguns meses atrás. Na ocasião, o Itamaraty divulgou uma nota em que deplorava - a expressão está lá, não estou inventando - a "reação desproporcional" de Israel ante o terrorismo do Hamas, que quer destruí-lo. Ou seja: tomou uma posição bem clara, distribuindo, como diz Garcia, um certificado de MAU comportamento para Israel. Agora, quando a teocracia islamita do Irã tenta se perpetuar pela fraude e massacra seus opositores, Celso Amorim tenta tirar o corpo fora, e diz que não cabe ao Brasil julgar o regime dos aiatolás... Em outras palavras: julgar pode, mas só se for Israel ou os EUA.

Além do mais, a frase de Amorim é equivocada até no que diz respeito aos fatos: o povo iraniano já está julgando o regime dos aiatolás. Basta ver as imagens dos mortos e feridos nas manifestações contra a fraude eleitoral que confirmou o maluco Ahmadinejad no poder. Aí estão o Twitter e o Youtube que não me deixam mentir.

Sobre a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à crise, que qualificou na semana passada os protestos da oposição iraniana pela anulação do pleito presidencial como demonstrações “de quem perdeu”, Amorim descartou avaliar a opinião como precipitada. “Tudo indicava que naquele momento o resultado estava adequado”, disse. “Ele não tomou posição, deu uma análise com os dados que dispunha.”

Como chanceler de Lula, é dever de Amorim defender seu chefe, mas isso não lhe dá o direito de negar os fatos. Como assim, "naquele momento o resultado estava adequado"? Como assim, "ele não tomou posição, deu uma análise com os dados que dispunha [sic]"? Vamos lembrar o que o Apedeuta disse, no dia 16/06, em Genebra, Suiça:

"Eu não conheço ninguém, além da oposição, que tenha discordado da eleição no Irã. Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos"

No dia em que Lula disse essa besteira monumental - uma da maiores barbaridades já ditas por um chefe de Estado em todos os tempos -, as denúncias de fraude nas eleições iranianas já haviam tomado conta do noticiário internacional, e estavam sendo sistematicamente divulgadas por várias entidades de defesa dos direitos humanos. Logo, não há como dizer que, naquele momento, "o resultado estava adequado". Ademais, a frase não deixa dúvidas: Lula tomou, sim, posição na questão eleitoral iraniana. Posição em favor de quem? Dos manifestantes oposicionistas? Dos mortos baleados pela milícia do regime? Não. De Ahmadinejad, cuja vitória Lula declarou legítima já naquele dia. E isso - atentem para esse detalhe! - ANTES mesmo de o aiatolá Ali Khamenei e o Conselho dos Guardiães terem RECONHECIDO a existência de FRAUDE nas eleições, e ordenado uma recontagem parcial dos votos. Resumindo: Lula, o nosso aiatolá, deu seu aval ao resultado das eleições no Irã antes mesmo do que os próprios aitolás iranianos - e Celso Amorim acha que não houve nada demais nisso!

Defendendo a avaliação de Lula, o chanceler destacou que “foi uma eleição em que houve muito debate, muita discussão. Não é muito lógico que em uma votação dessa natureza tenha havido irregularidades tão massivas que conduzissem a um resultado de 63%”, acrescentou, referindo-se aos números oficiais que deram a reeleição ao presidente Mahmoud Ahmadinejad. “Efetivamente, está havendo um reexame dos votos. Nos acompanhamos.”

Mais uma vez, no afã de defender o que Lula diz, Amorim joga a Lógica na lata do lixo. Pior: tentando apelar para a própria lógica. O fato de a votação anunciada de Ahmadinejad ter sido de 63% não demonstra a lisura do pleito. Muito pelo contrário! Foi justamente essa vantagem surpreendente, que contrariou a maioria dos prognósticos, além da rapidez com que foi divulgada, o que levantou as primeiras suspeitas de fraude. Amorim parece esquecer que o Irã é uma ditadura teocrática, na qual as eleições são quase uma formalidade, pois é o Conselho dos Guardiães, e não a voz do povo, quem tem a última palavra sobre os candidatos e o resultado das eleições. Também parece esquecer que, em regimes totalitários, quanto maior a vantagem do "eleito", menor a transparência do processo. É incrível.

Por que tamanha sabujice, tamanho atentado contra a inteligência e a lógica? A resposta está no que se poderia chamar de "estratégia diplomática" do governo Lula. Esta consiste em fechar os olhos deliberadamente, e de forma sistemática, para as piores tiranias do planeta e suas atrocidades, tendo em vista um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU - a suprema obsessão do Itamaraty. O Brasil quer fazer parte do "clube dos grandes", e quer alcançar esse objetivo cortejando ditadores e genocidas. Para tanto, já piscou o olho para o comunismo capitalista da China, assumindo a possibilidade de reconhecer o país como economia de mercado, declarou apoio a um antissemita e queimador de livros para a direção-geral da UNESCO e se faz de cego, surdo e mudo para o genocídio em Darfur, no Sudão, e para as ditaduras de Cuba e do Irã. O governo Lula espera, com isso, angariar os votos desses países para concretizar sua suprema ambição. Dará certo? Tudo indica que não, que o Itamaraty irá dar, mais uma vez, com os burros n'água, como aconteceu no BID e na OMC (a China, por exemplo, já anunciou que não quer nem ouvir falar num Conselho de Segurança ampliado do qual o Japão faça parte). Mas, mesmo que essa tática funcionasse, ficaria a questão: o que o Brasil faria no órgão máximo da diplomacia mundial? No mínimo, seria o porta-voz dos piores déspotas e genocidas da atualidade. Com a frustração desse velho sonho, o Brasil parece parafrasear Churchill: entre a desonra e a derrota, escolheu a desonra - e terá a derrota.

O Itamaraty, sob o governo Lula, adotou a omissão como política, a cumplicidade com tiranias como estratégia diplomática. Amorim deve se achar uma espécie de Henry Kissinger terceiro-mundista, com sua condescendência para com tiranos e assassinos em nome de um mundo "multipolar". Creio que não resta nada a fazer senão repetir uma frase muito antiga e verdadeira: "Quem se cala diante do crime, acaba cúmplice do mesmo".

Errata

Na nova enquete do blog, cometi um pequeno deslize: na última alternativa, onde se lê "Celso Minc", leia-se CARLOS Minc. Acabei confundindo os nomes de dois ministros do governo Lula, criando um Frankenstein. O que, dada a atual conjuntura, é algo bastante compreensível.
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Quando percebi o erro, já haviam votado na enquete, então não é mais possível corrigi-lo. Mas fica aqui a correção.

segunda-feira, junho 22, 2009

NÃO SOU MORALISTA - POR ISSO REPUDIO A MORAL DELES

Se tem uma coisa que realmente me tira do sério é ser chamado de "moralista". Esse adjetivo me causa um repúdio instintivo, mais até do que os caricatos "reaça" e "direitão" com o quais sou geralmente brindado, e que me provocam mais riso do que raiva. Sei que às vezes pode parecer que sou isso mesmo, e que posso ser assim interpretado. Mas, acreditem, não tenho nada de moralista, pelo menos não na acepção corrente do termo. Tenho, aliás, fortes razões para não ser. Acompanhem-me, por favor.
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Tenho horror, asco, ojeriza, repúdio a ser chamado de, ou considerado, moralista. E não faço isso por qualquer concessão minha ao relativismo moral ou ao politicamente correto, essa moda filosófica que parece ter vindo para ficar em certos círculos e que encobre, na maioria dos casos, o medo de ter uma opinião. Nada disso. Rejeito o rótulo por uma questão racional ou, se preferirem, de coerência.

Em primeiro lugar, o que caracteriza o moralista é sua pretensão de "converter" alguém a suas idéias. Não tenho essa pretensão, que julgo, aliás, arrogante. Não "prego" nada, para ninguém. Quem "prega" é martelo ou padre (ou pastor, ou mulá etc.). Acima de tudo, quem "prega" quer seguidores. Eu quero, no máximo, leitores. E mesmo que eu não tivesse nenhum, continuaria escrevendo. Escrevo não para converter quem quer que seja ao que eu penso, mas para desabafar, como uma espécie de terapia, ou como uma trincheira na qual me refugio ante a mediocridade reinante à minha volta. Acredito que é a consciência individual, e não qualquer imposição de fora, o verdadeiro repositório da liberdade. É por esse motivo, aliás, que não participo de nenhum "movimento", mesmo que eu o considere justo. Não me calo, mas também não tenho vocação para palmatória do mundo.
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Em segundo lugar, o moralista se caracteriza pela pretensão de julgar ou regular a vida pessoal, confundindo-a com a vida social e política. É, assim, uma espécie de juiz da virtude alheia, inclusive do comportamento privado de cada um. Também não tenho essa pretensão totalitária. Para mim, a vida pessoal, como o próprio nome indica, é pessoal, ou seja, pertence a cada um, e não à Família, à Igreja, ao Partido ou ao Estado. A vida particular das outras pessoas não me interessa nem um pouco. Se for descoberto, por exemplo, que Lula tem uma filha fora do casamento, ou que Obama tem uma amante, isso vai me interessar tanto quanto, digamos, o nome do costureiro que faz os vestidos de dona Marisa ou de Michelle Obama. Ou seja: nada! Tenho mesmo uma visão meio pessimista sobre a natureza humana, e acredito que todas as pessoas, sem exceção, escondem ou já esconderam algum segredo íntimo. Concordo plenamente com a frase de Nelson Rodrigues, segundo a qual, se conhecêssemos a vida sexual de cada um, ninguém se cumprimentaria. Mas isso, como já disse, não é da minha conta. Esses assuntos não me dizem respeito absolutamente, e não tenho nada a dizer sobre eles. Moralistas são os aiatolás do Irã, não eu.
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Claro, quando a questão diz respeito a assuntos de Estado, ou da política, a coisa muda de figura. Mas aí já está além da esfera puramente pessoal, e por isso - e somente por isso - merece comentário. Se Carlos Minc gosta de fumar um baseado depois do expediente, é problema dele, não tenho nada a ver com isso. Mas se ele, na condição de ministro de Estado, participa de uma passeata pela liberalização da maconha, ao lado de um bando de doidões cantando "vou apertar, mas não vou acender agora", obviamente isso não constitui mais uma questão pessoal, dele, Minc: é um ministro de Estado fazendo a apologia da droga e da ilegalidade. Do mesmo modo, se Renan Calheiros, quando era presidente do Senado, teve uma filha com a amante, isso não me diz respeito: o que me interessa na questão é que suas contas pessoais eram pagas por um lobista de empreiteira, motivo pelo qual ele perdeu o cargo (mas, pelo visto, não o poder). Também não dou a mínima se, na cabeça dessa gente, suas ações - políticas, não pessoais - não tiveram nada de imorais: isso só mostra a moral torta deles (também não vale dizer que o outro fez igual para fugir à responsabilidade, como sói acontecer). Para usar outro exemplo: se dois homens ou duas mulheres, maiores de idade, se apaixonarem e decidirem viver juntos como marido-marido ou mulher-mulher, isso tampouco é da minha conta. Mas isso não lhes dá o direito de quererem usar o poder coercitivo do Estado para calar e punir judicialmente quem, por qualquer motivo (religiosos, por exemplo), tem uma opinião diferente sobre esse tipo de união. Espero ter sido claro.
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Do mesmo modo, quando Lula compara o assassinato e espancamento de opositores do regime fundamentalista do Irã a uma briga entre vascaínos e flamenguistas, ou quando afirma que José Sarney não é uma "pessoa comum", rasgando o princípio constitucional da igualdade de todos perante a Lei e legitimando assim uma mentalidade colonial, ele não está emitindo uma simples opinião pessoal, dele. Em casa, em sua vida particular, o cidadão Luiz Inácio da Silva pode fazer, dizer ou pensar o que quiser. Mas o presidente Lula não tem o direito de banalizar a barbárie e justificar a impunidade. Quem me interessa é o político, não o indivíduo.
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Em outras palavras: minha crítica aos desmandos de petistas e esquerdistas em geral não é moralista, embora a conduta deles seja imoral e eles cometam atentados contra a ética todos os dias. Em meus textos, uso mais a Razão do que a Moral, embora, nos casos de Lula e de Minc, Razão e Ética sejam a mesma coisa. Minha crítica a esses senhores e suas práticas não significa que eu me arvore em polícia de costumes. Fui claro?
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Os esquerdistas e seu principais representantes no Brasil, os petistas, se arrogaram durante décadas o papel de vestais, reivindicando para si a condição de únicos defensores da ética na política. É por isso, e não pelo que fazem na cama ou no armário, que precisam ser desmascarados. Não é preciso ser moralista ou madre Teresa de Calcutá para perceber coisa tão óbvia.

segunda-feira, junho 15, 2009

Mais uma do Apedeuta, o sábio de Banânia: luta pela democracia no Irã, para ele, é como um jogo entre Vasco e Flamengo...

Polícia reprime manifestante no Irã: para Lula, isso é apenas uma questão de vascaínos versus flamengistas


Deu na BBC Brasil, no Estadão Online de hoje. Pensei inicialmente em começar o post fazendo algumas citações pontuais da notícia, mas, diante da enormidade do que vai a seguir, achei melhor transcrevê-la na íntegra (alguém poderia dizer que eu estava exagerando ou coisa parecida). Os grifos são meus.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira, em Genebra, que “não há provas” de que tenha havido fraude nas eleições iranianas e afirmou que pretende definir uma data para visitar o país no ano que vem. “Veja, o presidente [iraniano Mahmoud Ahmadinejad] teve uma votação de 61, 62%. É uma votação muito grande para a gente imaginar que possa ter havido fraude”, disse Lula em entrevista coletiva.“Eu não conheço ninguém, a não ser a oposição, que tenha discordado da eleição do Irã. Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas, sabe, uma coisa entre flamenguistas e vascaínos”, afirmou o presidente.

Lula afirmou ainda que a polêmica em torno da reeleição de Ahmadinejad não muda os planos de visitas entre representantes dos dois países.Ahmadinejad cancelou uma visita ao Brasil marcada para maio passado, afirmando que queria esperar o fim do processo eleitoral no país. “Ele viria, pediu para esperar o processo eleitoral, mas pode vir na hora que quiser, eu recebo do mesmo jeito”, disse Lula.

Questionado se pretende ir ao Irã, o presidente também foi assertivo. “Eu pretendo ir ao Irã. Pretendo arrumar uma data para o ano que vem e fazer uma visita ao Irã porque nós temos interesses em construir parcerias com o Irã, em trocas comerciais com o Irã”, afirmou. “O Brasil vai fazer todas as incursões que precisarem ser feitas para estabelecer as melhores relações com todos os países do mundo, e o Irã é um deles.”
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O que está aí em cima, principalmente no primeiro parágrafo, é uma das maiores barbaridades já ditas pelo Apedeuta em sete anos - e olhem que esses últimos sete anos foram pródigos em barbaridades ditas pelo personagem (a quantidade de batatadas, gafes ou imbecilidades pronunciadas pelo excelentíssimo, somente para ficar no período de 2003 para cá, seria suficiente para preencher vários livros). Não estou exagerando: trata-se de uma das coisas mais absurdas que alguém poderia dizer, em qualquer época, em qualquer lugar. Dessa vez, nosso Guia Genial se superou em estupidez e boçalidade. Numa tacada só, o Babalorixá de Banânia conseguiu o seguinte:

1) reconheceu, antes mesmo da ONU ou do próprio governo iraniano, o resultado altamente suspeito das eleições presidenciais no Irã, contra diversas evidências de fraude e as suspeitas da comunidade internacional ("não há provas") - algo que só pode ser classificado como precipitação ou irresponsabilidade;

2) justificou esse reconhecimento com um critério extremamente duvidoso - a porcentagem de votos obtida por Ahmadinejad -, como se esta, por si só, eliminasse qualquer possibilidade de fraude - esquecendo-se de exemplos como o do Iraque na época de Saddam Hussein, quando o tirano costumava ser "eleito" com mais de 90% (até mesmo 100%!) dos votos -, como se democracia fosse uma mera questão de números, e não de império da lei e de estado de direito;

3) finalmente, ao colocar a eleição no Irã na mesma categoria de uma disputa entre vascaínos e flamenguistas, Lula, o Rei da Metáfora, reduziu a luta pela democracia no Irã, que inclui eleições provavelmente fraudadas e apoiadores do candidato de oposição espancados pela polícia religiosa, a uma simples questão de ponto de vista, a um bafafá entre torcidas adversárias em um jogo de futebol. Difícil imaginar leviandade maior, em qualquer época, em qualquer lugar, por parte de qualquer pessoa.

Assim como banalizou a corrupção, ao afirmar, em pleno auge do escândalo do mensalão (será que alguém ainda se lembra?), que caixa dois é algo "normal, porque todo mundo faz", o Apedeuta agora banaliza a opressão política e religiosa em terras alheias, ao comparar a luta contra a teocracia islamita do Irã a um jogo de futebol entre vascaínos e flamenguistas. Nisso, ele parece seguir os passos de outro ícone da esquerda na atualidade, Barack Obama, que foi recentemente incensado pela imprensa mundial por ter, num discurso perante uma platéia muçulmana no Cairo, relativizado a democracia e defendido o "direito" dos muçulmanos apedrejarem mulheres adúlteras ou que não seguem rigorosamente o que está no Corão. Para sustentar esse ponto de vista, Obama apelou para a História, ou melhor, para uma versão mitificada e edulcorada da História do Islã, tratando de podar da mesma as passagens menos abonadoras ou que desmentem frontalmente sua tese de uma religião "tolerante", até mesmo "iluminista". Lula, como se sabe, prefere métodos mais diretos e menos sofisticados para defender o indefensável e justificar o crime: comparou tudo a um jogo entre Flamengo e Vasco, e pronto!

Ah sim: Lula aproveitou o gancho para dizer que quer ir ao Irã encontrar-se com Ahmadinejad, essa flor de pessoa, esse campeão dos direitos humanos e da tolerância - vejam o que ele quer fazer com Israel...

Esse é "O Cara", o grande estadista mundial, o paladino da democracia na América Latina (e agora, também, no Oriente Médio). O que estão esperando para lançar a candidatura de Lula ao Prêmio Nobel da Paz ou à Secretaria-Geral da ONU? Quanto querem apostar que haverá quem ainda tente justificar as declarações do Apedeuta como o supra-sumo do pragmatismo e da inteligência? Inacreditável...

sexta-feira, junho 12, 2009

OBAMA E O ISLÃ (OU: QUANDO O EXTREMO VIRA A NORMA)


Cometi uma pequena injustiça em meu post anterior, quando afirmei que somente o Reinaldo Azevedo e o Diogo Mainardi tiveram a ousadia suficiente para mangar do discurso "histórico" do demiurgo Barack Obama no Cairo (deveriam colocar o Obama em cima de um trio elétrico, cantando e rebolando ao som de Ivete Sangalo: o efeito sobre os cérebros da platéia seria o mesmo). É que eu tinha me limitado, até então, a ler as aves-marias e padres-nossos da nossa imprensa brazuca. Não tinha, ainda, lido o texto que vai a seguir, de autoria de Christopher Hitchens, publicado na revista eletrônica Slate em 08/06 (original aqui: http://www.slate.com/id/2220000/). A tradução, como sempre, é minha. As idéias bem que poderiam ser também.

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QUANDO O EXTREMO VIRA A NORMA

Há uma conexão fascinante entre o que o presidente Barack Obama disse sobre véus muçulmanos para mulheres em seu discurso de 4 de junho no Cairo e o debate sobre os prisioneiros de Guantánamo liberados que têm sido desde então encontrados, ou encontrados de novo, nas fileiras do Talibã e da Al-Qaeda. Não tente adivinhar, mas, por favor, leia.

Desde que o ex-vice-presidente Dick Cheney fez a maioria das manchetes do New York Times de 21 de maio, usando estatísticas do Departamento de Defesa para sugerir que um em cada sete detentos de Guantánamo tinha “voltado ao terrorismo ou à atividade militante”, tem havido uma enorme discussão sobre se isso é verdadeiro e, se é, por que é. Pode não ser o caso, por exemplo, de que uma pessoa inocente que passou pela experiência de Guantánamo possa tornar-se “radicalizada” e decidir juntar-se às fileiras da jihad pela primeira vez?

A última explicação certamente não é verdadeira para vários dos reincidentes que têm sido positivamente identificados; conhecemos o passado e o presente de alguns desses personagens. Em minha própria visita a Guantánamo, deram-me uma lista – oficialmente com somente 11 nomes – de ex-militantes do Talibã como Abdullah Mehsud, detido em fevereiro de 2002 e liberado em março de 2004, que mais tarde preferiu se matar a não se render às forças de segurança paquistanesas. Se é uma ofensa à justiça manter presas pessoas que podem ter sido vítimas de erro de identificação ou de vingança de outras facções, então é também uma ofensa à justiça liberar assassinos psicopatas que acreditam ter permissão divina para jogar ácido nos rostos de meninas que querem ir à escola.

Entretanto, se cremos ser provável ou possível que um homem somente se transmudaria em tal monstro depois de passar pela experiência de Guantánamo, então eu posso sugerir um motivo pelo qual isso possa ocorrer. Nada me preparou para a maneira como as autoridades no campo de Guantánamo permitiram aos devotos religiosos mais extremados entre os detentos serem os organizadores da rotina diária dos prisioneiros. Suponha que você fosse uma pessoa secular ou não-fanática apanhada na rede por engano; você ainda se acharia obrigado a rezar cinco vezes por dia (os guardas não têm permissão de interromper), a ter um Corão em sua cela e a comer alimentos preparados pelos padrões do halal (ou Sharia). Suponho que você poderia pedir para abster-se, mas, nesse caso, eu não apostaria muito em suas chances. Os oficiais em comando estavam tão contentes por causa da habilidade deles de exibir suas mentes extremamente abertas a respeito do Islã que eles pareceram quase magoados quando eu os indaguei como eles justificavam o uso do dinheiro do contribuinte para criar uma instituição dedicada à prática fervorosa da versão mais extremada de apenas uma religião. À imensa lista de motivos para fechar Guantánamo, acrescente esse: é uma madraçal patrocinada pelo Estado.

A mesma insistência quase masoquista em tomar o extremo como norma também esteve presente no discurso suavemente pronunciado de Obama na capital egípcia. Algo do que ele disse foi bem-intencionado, ainda que mal-informado. Os Estados Unidos não deveriam ter derrubado o governo eleito do Irã em 1953, mas quando o fizeram, usaram mulás e aiatolás subornados para açular o sentimento anti-comunista contra um regime secular. O governo de John Adams no Tratado de Trípoli de 1796 de fato proclamou que os Estados Unidos não tinham nenhuma rixa com o Islã como tal (e, ainda mais importante, que os Estados Unidos em si não eram uma nação cristã), mas o tratado fracassou em impedir os estados da Berberia em invocarem o Corão como permissão para raptar e escravizar viajantes dos altos mares, e assim Thomas Jefferson foi mais tarde obrigado a enviar uma frota e os Fuzileiros Navais para dar cabo do comércio. Espera-se que Obama não prefira Adams a Jefferson a esse respeito.

Qualquer pessoa com a menor pretensão ao alfabetismo cultural sabe que não há tal lugar ou coisa chamada “o mundo muçulmano”, ou, ao invés disso, que este consiste em muitos lugares e em muitas coisas. (É precisamente o objetivo dos jihadistas colocá-lo todo sob um domínio preparatório para tornar o Islã a única religião do mundo.) Mas Obama não disse nada sobre o cisma entre sunitas e xiitas, ou sobre o debate sobre o sufismo, ou sobre as formas Ahmadi e ismaelita de culto e prática. Tudo isso foi reunido na umma: a noção altamente ideológica de que uma pessoa é antes de tudo definida por sua adesão a uma religião e de que todos os conceitos de cidadania e direitos estão em segundo lugar em relação a esse diktat teocrático. Nada poderia ser mais reacionário.

Tomem o único caso em que nosso presidente tocou o fato mais conhecido sobre o “mundo” islâmico: sua tendência em fazer das mulheres cidadãos de segunda classe. Ele mencionou isso somente para dizer que os “países ocidentais” estavam discriminando as mulheres muçulmanas! E como essa discriminação é imposta? Ao se limitar o uso do véu de cabeça ou hijab (uma palavra que Obama pronunciou como hajib – imaginem a gritaria se George Bush tivesse feito isso). A implicação clara foi um ataque à lei francesa que proíbe o uso de objetos ou símbolos religiosos nas escolas públicas. De fato, no dia seguinte em Paris, Obama tocou nesse assunto ainda mais explicitamente. Faço uma citação de um excelente comentário de um professor visitante argelino-americano na Faculdade de Direito da Universidade de Michigan, Karima Bennoune, que diz:

Acabei de publicar uma pesquisa conduzida entre muitas pessoas de ascendência muçulmana, árabe e norte-africana na França que apóiam a lei nacional de 2004 banindo símbolos religiosos em escolas públicas, que eles vêem como um desdobramento necessário da “lei da república” para conter a “lei dos irmãos”, uma regra informal imposta não-democraticamente a muitas mulheres e meninas em vizinhanças e em casa e por fundamentalistas.

Mas para as mulheres que são obrigadas a se vestirem de acordo com as exigências de outros, Obama não teve nada a dizer absolutamente, como se o único “direito” em jogo fosse o direito de obedecer uma instrução que, de fato – se isso tem alguma importância – não é encontrada no Corão. Na Turquia, também, véus de cabeça para mulheres são proibidos pela lei em alguns contextos. Isso é, também, islamofobia? O presidente pensa que o véu e a burca também são declarações de moda livremente escolhidas? Esse tipo de ingenuidade é preocupante, e significa que entre a platéia muçulmana global, o tipo errado de gente estava rindo de nós, enquanto os que deveriam ser nossos amigos e aliados estavam vertendo uma lágrima de desapontamento.

*
Voltei
E pensar que houve um tempo em que os "progressistas" do mundo inteiro condenavam o governo dos EUA por defender regimes despóticos e ditatoriais... Hoje, ao contrário, a mesma turma cobre o presidente norte-americano de elogios por defender o "direito" de meninas serem apedrejadas e chicoteadas por não seguiram uma religião. Se isso não é duplo padrão e hipocrisia, então eu não entendo mais nada.

segunda-feira, junho 08, 2009

"YES, HE CAN"... OBAMA, O NOVO DEMIURGO DA ESQUERDA MUNDIAL


Olha, eu sei que é difícil ir contra Deus. Principalmente - e bota principalmente nisso - quando Ele se chama Barack Hussein Obama. Mas vou cometer esse sacrilégio. Alguém precisa fazê-lo. Minha alma pode não ir para o Céu, mas a Razão agradece.

Nos últimos dias, assistimos a mais uma das demonstrações de tietagem explícita da imprensa mundial - "a mídia burguesa", como gostam de dizer os esquerdopatas - que já se tornaram corriqueiras em relação a Obama. Refiro-me ao mais recente discurso "histórico" do presidente norte-americano, proferido na Universidade Al-Azhar, no Cairo, Egito.

Procurei nos jornais e revistas, além da internet, alguma análise mais crítica, ou, pelo menos, menos servil sobre o discurso de Obama. Com exceção do Reinaldo Azevedo e do Diogo Mainardi, não encontrei nada, nadinha. Este último, aliás, escreveu na VEJA um dos textos mais lúcidos que eu li nos últimos tempos, uma análise concisa e demolidora do enorme vazio intelectual que perpassa a retórica obamista (veja no final do post). Tirando esses dois arautos da "direita" midiática - logo, espiões da CIA e do imperialismo ianque, além de dedos-duros da ditadura militar de 64 e lacaios de Wall Street e do General Pinochet, segundo nossas esquerdas, elas sim donas da verdade e da razão -, só encontrei, ao invés de crítica, muita louvação, muita babação de ovo e sabujice. Tudo embalado por um "Discurso histórico de Obama inaugura nova relação com mundo árabe" aqui, um "Obama propõe novo começo nas relaçoes com o Islã" acolá, e outros chavões do tipo, junto com as louvações de praxe.

"Novo começo", é? Sei... A quase totalidade da imprensa mundial (a mesma "mídia burguesa" e "de direita", lembram?), ao que parece, jogou às favas o espírito crítico e comprou gostosamente a gigantesca operação de marketing que é Obama, e tem assinado embaixo de toda e qualquer palavra ou ação sua, ainda que seja - como, de fato, é (vide Afeganistão, por exemplo) - apenas mais um pouco do mesmo, com uma roupagem change. Obama, o novo Messias, está em plena campanha de relações públicas junto aos países árabes e muçulmanos, e é nesse contexto que deve ser entendido seu discurso no Cairo. Até aí, nada demais. Qual o problema, então? O problema, atentai leitor!, é que o discurso de Obama não passou de uma coleção de platitudes e lugares-comuns sobre o Islã e os muçulmanos, ditos com aquele vazio grandiloquente que tanto o caracteriza e que parece encantar as redações dos jornais aqui e alhures. Mais: incorreu em erros históricos, quando, ao tentar qualificar o Islã como uma "religião de paz", apelou para um passado mítico islâmico, de suposta harmonia e tolerância com outras crenças, inclusive de luminosidade científica e intelectual - tese desmentida de forma cabal pela História (vide a expansão islâmica a partir do século VII e a ocupação da Península Ibérica, feitas todas na ponta da espada), bem como todos os dias pelo noticiário (onde estão os "moderados" líderes islâmicos na hora de condenar, sem ambiguidade, os atentados terroristas do Hamas e do Hizbollah?). Mais ainda: serviu para reforçar os argumentos dos que odeiam os EUA e o Ocidente, ao transmitir a noção de que não haveria terrorismo islamita se não fosse por causa dos... EUA e do Ocidente! Enfim, uma mistura de anacronismo histórico com o velho Blame America First. Uma empulhação total.

Nada disso, é claro, importa para nove em cada dez meios de imprensa. Afinal, foi ela, a grande imprensa norte-americana ("burguesa", "de direita" etc.) que pariu e amamentou o mito Obama, deixando de cumprir seu papel básico de apurar sobre seu passado e suas relações - políticas e pessoais - até agora mal-explicadas com figuras sinistras como Bill Ayers e Jeremiah Wright para se debruçar sobre os vestidos e penteados de Sarah Palin, como demonstra de forma bastante didática o jornalista (ainda sobraram alguns) Bernard Goldberg, em seu livro imperdível A Slobbering Love Affair: The True (and Pathetic) Story of the Torrid Romance Between Barack Obama and the Mainstream Media (numa tradução livre: Um Caso de Amor Babão: A Verdadeira e Patética História do Tórrido Romance Entre Barack Obama e a Grande Imprensa). Não é surpresa, portanto, que discursos como o do Cairo já nasçam "históricos" antes mesmo de serem pronunciados, mesmo que se baseiem, como de fato se baseiam, numa interpretação completamente mitológica e falseada do Islã e de sua História.

Isso se aplica também a qualquer coisa que Obama faça em política externa. Quem não se lembra dos acenos de Obama à teocracia islamita do Irã do louco Mahmoud Ahmadinejad, o mesmo que esnobou o convite do Itamaraty para visitar o Brasil no mês passado? Pois este já respondeu prontamente à política de "mão estendida" da Casa Branca... intensificando seu programa nuclear e testando um míssil capaz de atingir Israel! Outro louco, o ditador Kim Jong-il da Coreia do Norte, provavelmente estimulado pelas sábias palavras de paz e concórdia de Obama, também se aproveitou desse "novo momento" das relações dos EUA com o restante do mundo, anunciada com pompa e fanfarra pelo demiurgo Obama, lançando mísseis e ameaçando o mundo com a arma atômica. E os assasinos e terroristas do Hamas, certamente, devem estar se sentindo o máximo depois de terem sido colocados no mesmo nível político dos malvados israelenses pelo presidente dos EUA - e de terem visto o New York Times aplaudir entusiasticamente isso.

Houve uma época, não faz tanto tempo assim - estou falando não de vinte ou dez, mas de uns seis anos atrás -, em que as palavras dos políticos eram recebidas geralmente com um saudável ceticismo por parte da imprensa séria e dos "formadores de opinião". Era uma época em que o espírito crítico falava mais alto do que o oba-oba, ou em que, quando isso se mostrava, era com um certo pudor, uma certa vergonha, os elogios deslavados cobertos por uma série de subterfúgios. Essa época acabou. Hoje, com Obama lá e Lula aqui, a tietagem mais explícita e desavergonhada tomou conta das redações dos jornais e da "mídia", não deixando qualquer espaço para a análise fria e o ceticismo. A ponto de qualquer bobagem que Obama disser vir apresentada automaticamente como as Novas Tábuas da Lei. Yes, he can. Ou melhor: Yes, they can...

Definitivamente, o marketing e os chavões tomaram o lugar da análise política, e isso tanto nos EUA quanto no Brasil. Quem perde com isso é a verdade. Ou seja: todos nós.

Para fechar com chave de ouro, reproduzo a seguir o artigo de Diogo Mainardi na VEJA desta semana. Nada poderia ser mais eloquente e sucinto. Por isso o transcrevo integralmente.


PLATITUDES E ASNICES

Giotto era do Hamas?

Barack Obama, em sua viagem ao Egito, tentou reconciliar o mundo maometano com os Estados Unidos. Em vez de bombardear os terroristas com um Predator, ele os bombardeou com platitudes: "O ciclo de suspeita e desentendimento tem de acabar... Estou aqui em busca de um recomeço... Baseado no interesse mútuo e no respeito mútuo... Em princípios comuns – princípios de justiça e de progresso, de tolerância e de dignidade para todos os seres humanos". Dá até para imaginar um carrasco pashtun, subitamente iluminado pelo discurso de Barack Obama, largando suas pedras, um instante antes de apedrejar uma adúltera.

E onde entra Giotto nisso tudo?

Barack Obama, a certa altura de seu pronunciamento, disse: "Como estudante de história, eu aprendi que foi o islamismo – em lugares como a Universidade Al-Azhar – que conduziu o lume da sabedoria por séculos e séculos, pavimentando o caminho na Europa para o Renascimento e o Iluminismo". Ele só pode ter aprendido isso com Edward Said, em seus tempos de estudante na Universidade Colúmbia. Os árabes, na Idade Média, tinham grandes conhecimentos de álgebra e de caligrafia, como citou o próprio Barack Obama, num trechinho tirado diretamente da Wikipédia. Mas o principal papel do islamismo para o estabelecimento do Renascimento e do Iluminismo – está igualmente na Wikipédia – foi o massacre de milhares de cristãos em Constantinopla, que obrigou os helenistas bizantinos a se refugiarem na Europa, com seus clássicos gregos e latinos. O Oriente revitalizou o Ocidente perseguindo-o, aterrorizando-o, assassinando-o.

Barack Obama realmente acredita em sua capacidade de seduzir e desarmar os fanáticos religiosos e os tiranos genocidas que prometem destruir Estados Unidos e Israel. Apesar dos aplausos entusiasmados de editorialistas do mundo inteiro, seu discurso é de uma asnice assustadora: ele apela retoricamente para um passado remoto do islamismo, um passado mítico, que só se encontra nas salas de aula da Universidade Colúmbia. Foi o que ele fez quando se referiu à Universidade Al-Azhar, aquela que teria conduzido "o lume da sabedoria por séculos e séculos". A Universidade Al-Azhar tem uma história antiga e gloriosa. Mas a realidade é que, nos últimos 100 anos, ali se formaram o fundador do grupo terrorista Mão Negra, o fundador do grupo terrorista Irmandade Muçulmana e o fundador do grupo terrorista Hamas. Barack Obama procurou instaurar um diálogo com o islamismo que produziu o Renascimento – que produziu Giotto. Como se Giotto, depois de pintar afrescos numa capela, fosse fabricar um foguete Qassam. É melhor Barack Obama clicar o nome de Giotto na Wikipédia.

Dizer o quê? Disse tudo.

Respondendo a quem não merece (ou: um pouco de pérolas aos porcos)


Mais um da aparentemente infindável tribo dos desocupados e descerebrados - como diz o ditado: Asinus Asinum Fricat (um jumento se esfrega em outro jumento) - me escreveu um recadinho muito simpático. Relutei um pouco antes de publicá-lo aqui, pois o, digamos, comentário do valente é, como vocês verão, auto-explicativo. Mas acho que vale a pena, pelo valor didático. Aí vai a pérola, no idioma exótico em que foi escrito:

Apedeuta eh vc e seus textos mal formados, sem expressão, sem nada! Não duvido que seja algum pau mandado de algum espião da CIA. Pau mandado não: ido. Pq vc eh muito retardado para alguem com um minimo de inteligencia mandar fazer algum coisa!

E Marighela imbecil nunca foi terrorista!

Voce eh muito sem noção AFFFFf

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Afff... (adoro esses faniquitos afetadinhos...). O que dizer do que está aí em cima? Não muito, é verdade. É difícil, para dizer o mínimo, manter algum diálogo com quem acusa alguém de ser "pau mandado de algum espião da CIA" - e, aliás, não quero mesmo dialogar com esse tipo de gente. Pra eles, só camisa-de-força e Gardenal.

Fico até com um pé atrás quando recebo um excremento desses, pois desconfio de que pode se tratar de alguma pegadinha, de alguma brincadeira de algum amigo ou colega meu que está só tentando se divertir um pouquinho às minhas custas. "Vamos escrever uma coisa bem cretina para ver o Gustavo achar que está dando umas chineladas num esquerdiota", algo assim. Se for esse o caso, já disse aqui, não tem a menor importância. Coisas como essas são perfeitamente possíveis de serem ditas - aliás, como são ditas! - pela tribo da Al Qaeda eletrônica, que espuma de raiva quando alguém tenta trazê-los de volta à realidade. Além do mais, não posso negar: ler - e, principalmente, rebater - tanta sandice tem seu lado divertido.

É uma pena que a mesma disposição que "eles" têm para xingar e caluniar quase nunca venha acompanhada de um pouquinho de leitura. Nesse caso, bastaria dar uma olhadinha, por mais rápida que seja, em outro post meu, de 26/10/2007. Nele, ao responder a outro leitor que disse praticamente a mesma coisa, sobre o mesmo assunto ("Ah e só pra lembrar, o Carlos Marighela não era uma (sic) terrorista não seu imbecil. Ass. Paulo"), eu escrevi o seguinte (os grifos são meus):

Paulo, você tem razão. Carlos Mariguella - e Lamarca, e todos os demais que praticaram assaltos, seqüestros e assassinatos nos anos 60 e 70 - não era terrorista. Era, na verdade, um grande mentiroso. Senão, não teria escrito coisas como:

"Hoje, ser terrorista é uma condição que enobrece qualquer homem de honra porque isto significa exatamente a atitude digna do revolucionário que luta, com as armas na mão, contra a vergonhosa ditadura militar e suas monstruosidades". Citado em Elio Gaspari, A Ditadura Escancarada, 2002, p. 142.

"Sendo o nosso caminho o da violência, do radicalismo e do terrorismo (as únicas armas que podem ser antepostas com eficiência à violência inominável da ditadura), os que afluem à nossa organização não virão enganados, e sim, atraídos pela violência que nos caracteriza" ("O papel da ação revolucionária na Organização"). Citado em Daniel Aarão Reis Filho e Jair Fernandes de Sá, Imagens da Revolução, 1985, p. 212.

"Ao terrorismo que a ditadura emprega contra o povo, nós contrapomos o terrorismo revolucionário" - "La lutte armée au Brésil", novembro de 1969 - citado em Elio Gaspari, A Ditadura Envergonhada, 2002, p. 106.

Como se vê, eles não eram nada terroristas.
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E eu, claro, sou um imbecil.
Um abraço.

É isso. Como quem tiver a pachorra de procurar saber o que o próprio Mariguella escreveu (e fez) perceberá com facilidade, o sujeito era uma flor de pessoa, não tinha nada de terrorista. E a agradável criatura que me mandou o comentário deve ser professor de Português.
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Agora, com licença que eu, o sem-noção, vou recolher meus caraminguás de pau-mandado da CIA...

quinta-feira, junho 04, 2009

TIANAMEN: 20 ANOS DEPOIS






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Quando será que estas imagens pertencerão unicamente ao passado?
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Minha pequena homenagem
ao desconhecido da camisa branca
- e a todos aqueles
que deram suas vidas
por algo chamado
LIBERDADE.

quarta-feira, junho 03, 2009

Cuba de volta à OEA: vitória do lobby pró-tirania, derrota da democracia

Adivinhem em que país foi tirada esta foto...


Acabo de saber pelos sites de notícias que os representantes dos 34 países americanos reunidos em Honduras decidiram, por consenso, pela revogação da resolução que excluiu Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA). A decisão abre o caminho para anular a expulsão do regime de Fidel e Raúl Castro da organização, ocorrida durante a VIII reunião de chanceleres americanos de Punta del Este (Uruguai), em fevereiro de 1962.
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Anotem o que digo: a camarilha bolivariana e a imprensa vendida a essa turma dirão que a reintegração de Cuba ao organismo interamericano é um passo importante para as boas relações diplomáticas na região, que a exclusão de Cuba da OEA era um resquício anacrônico da época da Guerra Fria etc. Dirão também que Cuba não mais representa qualquer ameaça à segurança continental, e que sua reincorporação à OEA poderá mesmo ser o caminho para a realização de reformas democráticas na ilha etc. etc. Falarão em "fim da Guerra Fria" e outras coisas que tais.
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Tudo balela. A Guerra Fria acabou, o Muro de Berlim caiu, a URSS virou fumaça - mas Cuba continua uma ditadura comunista. E não há nada no horizonte que pareça indicar que deixará de ser um dia. A revogação da expulsão de Cuba da OEA é uma óbvia vitória do lobby pró-tirania e um respiro a mais para a ditadura cubana. É um retrocesso democrático, uma derrota da democracia e dos direitos humanos, em todos os sentidos.
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Isso, mais uma vez, não é assim porque eu quero. Basta atentar para o seguinte fato: a decisão de reincorporar Cuba à OEA não foi acompanhada de nenhuma condição, nenhum compromisso, colocado ante o regime cubano. O único país que apresentou um projeto de resolução impondo condições para a eventual reintegração da ilha foi, claro, os EUA, que, vendo que seria voto vencido, logo se retirou da reunião. Durante dias, os 34 países americanos estiveram divididos não quanto ao reingresso de Cuba na OEA, mas no tocante a se haveria ou não condições para que isso se efetuasse. Inicialmente, um grupo de países, preocupado com o fato inegável e indisfarçável de que Cuba é uma ditadura, queria a revogação da resolução sem que necessariamente Cuba voltasse imediatamente para a OEA. No final, porém, venceu a proposta da Nicarágua, apoiada pela Venezuela, em favor da retirada de todas as precondições para que Cuba volte a integrar o grupo. Ou seja: não foi colocada nenhuma condição para que Cuba fosse reintegrada à OEA e seja aceita de novo no pleno convívio com os demais países americanos. Em bom português: não se falou, nem se falará, em democracia, eleições livres, liberdade para presos políticos, liberdade de imprensa e direitos humanos. Absolutamente nada. É mais um passo rumo à eternização da ditadura dos irmãos Castro, que já dura meio século.
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A decisão de reintegrar a ditadura cubana ao convívio com os demais países das Américas é um absurdo político, moral e também legal. Isso porque tal decisão não está apenas em contradição com a Carta Democrática da OEA de 2001 (que foi assinada, é bom lembrar, por países como a Venezuela de Hugo Chávez, que agora a rasga solenemente ao fechar canais de TV e prender opositores). Está em franca oposição, também, à própria Carta da OEA, de 1948. Vejamos.
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Já em seu preâmbulo, a Carta da OEA deixa claro que os países-membros estão "Seguros de que a democracia representativa é condição indispensável para a estabilidade, a paz e o desenvolvimento da região" e "Certos de que o verdadeiro sentido da solidariedade americana e da boa vizinhança não pode ser outro senão o de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de liberdade individual e de justiça social, fundado no respeito dos direitos essenciais do Homem". Exatamente o contrário do que existe em Cuba.
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No Artigo 2, que trata dos princípios da Organização, a Carta estabelece, entre seus "princípios essenciais", além de "Garantir a paz e a segurança continentais", "b) Promover e consolidar a democracia representativa, respeitado o princípio da não-intervenção" (Cuba não somente é uma ditadura como interveio diretamente em vários países da região, promovendo guerrilhas e atentados, inclusive contra governos democráticos).
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No mesmo tom, o Artigo 17 não deixa dúvida sobre quem pode participar da Organização: "Cada Estado tem o direito de desenvolver, livre e espontaneamente, a sua vida cultural, política e econômica. No seu livre desenvolvimento, o Estado respeitará os direitos da pessoa humana e os princípios da moral universal." Precisa comentar?
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E por aí vai. Desnecessário dizer que nenhum desses princípios correspondem à realidade da ilha caribenha. Os 34 países que votaram a favor da reincorporação de Cuba mandaram a Carta da OEA para o mesmo lugar aonde foi mandada a democracia na ilha: a lata de lixo.
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Ao contrário da lenda bastante difundida, Cuba não foi expulsa da OEA por pressão dos EUA, que teria inclusive subornado diplomatas latino-americanos - na verdade, ela própria se expulsou. Isso ocorreu quando Fidel Castro, em dezembro de 1961, pronunciou um discurso em que se declarou, pela primeira vez oficialmente, marxista-leninista (e ainda acrescentou: "e o serei até morrer"). Com isso, o tirano deixou claro sua filiação a um dos blocos geopolíticos da Guerra Fria - o bloco comunista -, o que o colocava frontalmente em oposição à Carta da OEA, que, como está claro acima, exige de seus integrantes o respeito pela democracia. Além disso, vários acordos e resoluções proíbiam terminantemente os países da região de qualquer aliança com uma potência extracontinental (era o caso da antiga URSS), o que era considerado uma forma de intervenção.
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E antes que alguém diga: não, o desrespeito da tirania cubana pela Carta da OEA começa muito antes de qualquer "agressão" norte-americana a Cuba. Já em abril de 1959 - repito: abril de 1959! -, quatro meses depois da chegada de Fidel Castro ao poder e muito antes de qualquer atitude dos EUA contra a ilha, o regime cubano patrocinava incursões guerrilheiras em quatro países latino-americanos (Panamá, Nicarágua, República Dominicana e Haiti). Nos anos seguintes, tais incursões se intensificaram, levando todos os países das Américas (com exceção do México e do Canadá) a romperem relações com Cuba em 1964, após ser revelado que Havana fornecia armas para os guerrilheiros comunistas que combatiam o governo constitucional da Venezuela.
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Isso, repito, não foi assim porque eu quero que tenha sido (há livros sobre o assunto; leiam, se quiserem). A partir do momento em que a Revolução Cubana degenerou em ditadura comunista, não havia mais espaço para que Cuba permanecesse no sistema interamericano. Sua exclusão da OEA, portanto, seguiu plenamente os preceitos da própria organização. O mesmo não pode ser dito de seu retorno.
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O curioso é que, mesmo com todo o lobby pelo reingresso de Cuba, o tirano Fidel Castro jamais escondeu seu desprezo pela OEA. Foi, aliás, contra a própria criação da OEA que ele, ainda estudante, meteu-se em sua primeira aventura estrangeira, quando se envolveu nos distúrbios de rua conhecidos como El Bogotazo, na capital da Colômbia, em 1948. Naquela ocasião, ele estava em Bogotá como membro de uma delegação estudantil cubana convidada pelo então ditador argentino Juan Domingo Perón para participar de uma conferência de protesto contra a Nona Conferência dos Países Americanos, da qual resultou a criação da OEA. Natural, portanto, que ele sempre tenha desdenhado a organização - em várias oportunidades, Fidel a chamou de "ministério de colônias" e coisas do mesmo naipe. O jornal oficial cubano Granma - ou seja, o jornal dos Castro - publicou no dia 29/05 que a ilha "nunca" retornaria à OEA e classificou a organização de um "pestilento cadáver" e "vetusto casarão de Washington"...
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Pelo menos em algo há que se concordar com os porta-vozes da tirania castrista: a OEA está, a cada dia, mais parecida com um cadáver. Com o retorno de Cuba, a organização cavou sua própria cova, caminhando célere para a irrelevância. Com o apoio explícito dos governos de esquerda latino-americanos, a ditadura cubana - a mais antiga do Ocidente - está cada dia mais longe de seu fim. Para a alegria do "carnívoro" Hugo Chávez e do "vegetariano" Lula.